Livro: A curiosa história do editor partido ao meio na era dos robôs criadores

Atenção

Aqui estão minhas anotações e destaques referente a leitura, logo, é uma página recheada de SPOILERS. teje avisado.


Conteúdo


Informações Gerais sobre a Leitura

Motivo da Leitura

  • Encontrei na biblioteca de Cabo Frio e gostei do título e sinopse. Olhei o ano da publicação e pensei que seria interessante ler algo sobre o tema escrito anos atrás.
  • De alguma forma parecia atual aos meus interesses: escritor na época da inteligência artificial geradora de texto

Summary

  • Leitura feita em livro físico
  • Emprestado da biblioteca de Cabo Frio em 2023-08-18-Fri
  • O início parecia muito promissor, mas conforme a história avança parece que os conflitos chegam em estágios avançados que eu até me perdi.
  • Boa parte dos capítulos do desenvolvimento eu passei correndo e mal me lembro. Amargurado com a leitura desprazerosa.
  • Ramon é Nomar, ele não parece decidido em qual é sua identidade de verdade.
  • Envolve crítica ao capital e uma rede de prostituição.
  • Por vezes, parece que ele quer fazer uma crítica ao machismo muito rasa.
  • Os robôs criadores são diferentes da AI generativa de hoje. São pessoas e processos da CPE.
  • Espero que Jose Luis Saorin seja menos bundão que Ramon.


Estatísticas:

Início da leitura: 19/08/2023
Finalização: 07/09/2023

Gráfico de leitura:

Pasted image 20230910102845.png


Avaliação

Nota: ★★★

'A curiosa história do editor partido ao meio na era dos robôs criadores' de José Luis Saorin, tem um início promissor mas deixa a desejar na exploração das inúmeras questões e tópicos levantados num emaranhado de situações conflitantes e autoimpostas.


Processo de destaques e anotações


Destaques e anotações do livro "A curiosa história do editor partido ao meio na era dos robôs criadores"

1

“Dei-me conta de que jamais poderia ser caçador no Alasca; a verdade é que não poderia ser um monte de coisas. Tive sorte de nascer num século cheio de comodidades. Em qualquer outra época sequer teria chegado à adolescência. Esse pensamento me agradava porque assim pelo menos encontrava um sentido para todos os meus defeitos. Não que fosse um Quasímodo, mas, de qualquer modo, num concurso de tarzãs teria ficado em último, isso se não morresse ao pular de um cipó para outro.”

“A máquina não tinha troco. Tudo bem, não queria o troco, ela que ficasse com ele. Só queria o bilhete. Olhei todos os botões, mas não havia nenhum para deixar gorjeta. Merda, estava com pressa e a única coisa que eu queria era um bilhete, mas a maldita engenhoca não entendia nada disso, e a única coisa que fazia era ficar apitando enquanto eu apertava seguidas vezes o botão do bilhete. Finalmente, dei-me por vencido e apertei o botão para cancelar. A moeda de dois euros fez o mesmo barulho que quando cai na canequinha metálica de um cego. Mudei de máquina, mas ficou claro que não era meu dia. Fora de serviço, dizia o cartaz que alguém escreveu com letra ruim numa folha branca.”

2

“O bom do metrô é que sempre há muitos passageiros lendo. De fato, a maioria das manhãs eu as utilizava para fazer minhas próprias estatísticas sobre os gostos das pessoas em matéria de leitura. Além disso, gostava de comprovar se nossos produtos estavam bem situados em relação aos da concorrência. Algumas de minhas melhores ideias tinham me ocorrido no metrô. Como a dos nanorrelatos. Por isso procurava não pegar o carro ou um táxi. O metrô era meu campo de provas.”

3

21/08

“Nesse momento, Luvic, que era meu chefe direto, apre-sentava, utilizando um canhão de vídeo, o programa da jorna-da. Esta era a última moda do grupo. Uma vez por ano eram celebradas reuniões para que os quadros intermediários conhecessem o que estava ocorrendo na empresa. Era isso o que eu era, um quadro intermediário. A palavra quadro sempre me intrigou. Em tese, deveria ter algum significado positivo, mas a mim parecia o mesmo que se você dissesse a uma mu-Iher que ela era uma floreira. Sei lá, me sentia como se estivesse servindo de enfeite na empresa. Enfim, como um quadro mesmo.”

“Estava convencido de que ele não tinha a menor idéia do que acontecia na empresa. Nesse nível, a única coisa que preocupa você é se a empresa compra ou é comprada, ou se o seu patrimônio é de um bilhão de euros ou de dois bilhões. Seia como for, certamente você não está preocupado se tem ou não moedas trocadas para o metrô.
As falas sempre eram iguais. Vamos bem, mas temos que melhorar. A empresa solicita um novo esforço. A concorrência está muito forte. Às vezes me perguntava por que não mudavam o discurso. Quem sabe porque era fácil de aprender ou talvez porque tinha gente que ainda acreditava nele. Os mercados nos avaliam positivamente, mas temos de conseguir ci fras estáveis de crescimento. Enfim, a ladainha de sempre.
Luvic sorria e mexia a cabeça com um gesto afirmativo como se o que estivesse dizendo fossem descobertas vitais para a humanidade. Os demais membros do júri permaneciam absortos em seus próprios pensamentos. Eles não eram quadros, mas de detrás daquela mesa pareciam os restos de um museu empoeirado e rançoso."

“No início não tinha muita clareza sobre como era minha mulher, na ficção, é claro. Dispunha apenas de um nome, Mar-ta, e uma idade, roubados de uma antiga namorada que converti em esposa virtual. De qualquer modo, para uma entrevista de trabalho a gente não constrói muito mais sobre os personagens inventados. Além disso, também ninguém costuma perguntar muito. No entanto, com o passar dos anos fui acrescentando mais características. Queria diferenciar minha mulher da minha ex-namorada. Era como uma charada. A cor do cabelo, a altura, suas manias, seus defeitos, seu passado. En-fim, pouco a pouco desenhei na minha imaginação um casal cheio de pequenos detalhes.

Minha própria mentira me envolveu como num jogo perigoso e muitas vezes entrava nos supermercados e comprava cremes hidratantes e perfumes femininos. Abri para ela uma conta de correio eletrônico para que pudéssemos nos escrever.

Tinha até um calendário onde anotava os dias do seu ciclo.

Soube sua data de nascimento, suas manias ao acordar, suas comidas e seus programas de televisão favoritos.”

5

6

“Tratei de mergulhar de novo no livro, mas era trabalhoso, porque estive sonhando com a convenção e as histórias se mis turavam. Além disso, não tinha muita certeza de estar gostando daquela novela. Falava de um escritor solitário que fica obcecado achando que os outros estão querendo roubar suas idéias e então enche a casa de gravadores para poder deixar registrado tudo o que diz. Todo dia ele recompila as fitas e as leva até o registro de propriedade intelectual. Ali conhece uma moça, que é quem o atende amavelmente quase sempre. No fim, acaba saindo com ela algumas tardes para tomar café.

Um dia a moça descobre que ele está gravando todas as suas conversas na cafeteria e fica chateada, mas em vez de gritar ou romper sua relação com ele, dedica-se a gravar por sua conta as mesmas conversas. Então cada um chega em casa à noite e ouve sua fita. Ela se dedica a registrar as suas à primeira hora da manhã, de maneira que as dele sempre tenham o registro de entrada uma hora mais tarde que a sua. Continuam com essa rotina durante meses, até que ele um dia lhe traz de presente um livro que publicou. Ela lhe dá os parabéns, mas quando chega em casa à noite comprova que muitas das frases foram extraídas das fitas que ambos gravaram. No dia seguinte o denuncia por plágio.”

7

8

“Os tetos dos hotéis são uma fonte constante de inspiração, pelo menos eu acho isso. Você deita na cama e olha a ausência de lâmpadas e de cor, característica dos quartos, e por alguma razão isso ajuda você a meditar. É como a ioga, só que sem tanto esforço. A verdade é que aquilo que eu estava olhando nesse momento não tinha nada de especial mas me permitiu entrar nesse estado de meditação próprio dos santos.”

Nota

Lembrei de Maya Angelou, que gostava de escrever em quartos de hotel

9

10

“Eu me mexia no assento perguntando-me constantemente se o Super-homem havia se encontrado alguma vez no dilema de ter que escolher entre sua vida profissional e sua identidade real. Porque para mim, a identidade de Ramón era como a de Marta, dois personagens fictícios que serviam de tela a Nomar, o escritor, o verdadeiro.”

Question

Quantas vezes super homem aparece na história?

“Surpreendia-me muito observar que embora as estatísticas dessem as mulheres como principal leitor de livros, os assistentes eram majoritariamente homens. As gravatas e os paletós se impunham às saias numa proporção que estimei em pelo menos dois para um.”

11

“Olha - asseverou colocando o dedo indicador sobre meu peito -. Meu pai morreu quando vocês compraram a editora dele e sabe por quê? sabe?

Acontece que ela estava falando da editora Livros são

Amores, uma empresa que existia há mais de cem anos no mercado. Acontece que de alguma maneira eu de fato sabia o que ela estava me contando. Claro que eu lembrava, sua aquisição teve lugar seguindo uma política de compra de pequenas empresas com o objetivo de aumentar a cota de mercado. Eu nunca estive à frente desse departamento, era responsabilidade direta de Luvic, mas de fato lembrava de me alegrar quando nos comunicavam pelo correio interno a notícia de uma nova aquisição. Lembrava do caso da editora Livros são Amores porque repercutiu muito no setor. O anti-

¿o dono se suicidou alguns meses mais tarde e nunca se soube os motivos que o haviam levado a isso. Também não tive muita curiosidade em saber, achei que ele não tinha conse

Buido digerir os milhões que havia recebido pela compra. E

bastante freqüente.

-Agora me estabeleci por minha conta - disse levantando os olhos e me olhando -, mas não pretendo permitir que vocês façam comigo o mesmo que fizeram com meu pai.”

“Não soube o que dizer. Eu não tinha nada a ver, mas me sentia culpado, como se tivesse disparado uma arma contra o peito de um indefeso. No final das contas eu também me alegrei quando a empresa foi comprada, e também achei bom que tivessem eliminado os postos pouco eficientes e que seus leitores fossem utilizados como mercado para nossos pro-dutos. Fiquei com o suco de laranja a meio caminho entre a boca e a camisa, paralisado diante do fato de ter colaborado com algo tão terrível. Olhava para Marta e tinha vontade de abraçá-la e dizer-lhe o que sentia, mas a única coisa que fazia era balbuciar desculpas que soavam tão falsas como euros de papelão.”

“ Sorte? - Do que é que essa mulher estava falando? Desde quando é uma sorte para uma editora que um de seus escritores morra?
  Sim - disse aproximando-se do meu ouvido mais do que eu considerava prudente -, as vendas de seus livros aumentaram escandalosamente. Quisera eu que meus escritores morressem com maior frequência.
  Joguei-me para trás na cadeira e a olhei com cara de es-panto. Essa mulher estava louca. Sua empresa acabava de comprar os direitos de publicação do código da vida e no entanto ela desejava ver mortos os seus próprios escritores para aumentar as vendas. Olhei o relógio dissimuladamente e levantei com precipitação. Os demais comensais me olharam com interesse.”

12

13 ao 17

19

“Mas eu precisava falar.
-Conhece uma coisa chamada CPE? - perguntei à quei-ma-roupa.

Olhei o que estava me mostrando. Era um livro de Fernando Riballo, um dos autores principais da editora dela. Olhei sem entender o que ela queria me explicar.

Mordeu os lábios antes de responder.

Jaime com o CPE.

Tranquilizei-me um pouco ao comprovar que não suspeitava de um complô para assassinar os escritores, e sim de um plano para acabar com eles profissionalmente falando. Era possível que a trama policialesca fosse só imaginação minha, quer dizer, talvez não devesse comentá-la naquela hora. Primeiro recolheria mais informação e depois iria pensar.”

A cena em que ele como nomar conta que não escreve seus livros e sim Ramon é inacreditável

“- O que você não sabe é que não sou eu quem escreve

meus livros.

Parou de me acariciar e ficou tensa. Acho que a surpreendi.

Ela começou a falar. Não podia acreditar nisso, embora, claro, esse poderia ser o motivo pelo qual Nomar Wallace nunca aparecia em público. De fato, ficou surpresa que em Tenerife eu tivesse ido pessoalmente. Mas se eu não escrevia os livros, quem era eu?

Custou-me um pouco convencê-la mas no final consegui.

É o bom de não precisar contar mentiras. Afinal, era verdade que Ramón Ferrero escrevia meus livros. Além disso, não me custou muito inventar uma história plausível. Depois do CPE qualquer coisa podia parecer razoável.

Ela moveu a cabeça como se entendesse perfeitamente.

De repente, alguma coisa mudou. Não é que eu não estivesse ali desde que havia descido do avião, mas subitamente me dei conta de que já não estávamos em Tenerife e sim em Bar-celona, e que a Marta que tinha na minha frente havia-se convertido numa empresária preocupada com o futuro de seu negócio, enquanto eu passava a ser um ator de meia-tigela que aceitava papéis absurdos para usurpar o lugar de um escritor que não existia. Soube, sem nenhuma dúvida, que estava tudo acabado entre nós.

Certo, isso está muito bem - me interrompeu com um olhar frio e cortante”

23

24

25

26

“Do meu lado, pude perceber como Antônio levava a mão ao pescoço e acariciava a pele embaixo do queixo.

Era o que me faltava. Não podia acreditar, era como se todos os meus pesadelos estivessem virando realidade, um por um. Talvez ainda estivesse sob o efeito da droga e tudo fosse um sonho ruim dentro de um caixão. Belisquei-me na coxa, só para me machucar, porque infelizmente já sabia que tudo era real.

Por acaso eu deveria entender alguma mensagem oculta naquele gesto?“

27

28

29

30