Leal de Souza - O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda - Fundamentos de Axé (2020)

Atenção

Aqui estão minhas anotações e destaques referente a leitura, logo, é uma página recheada de SPOILERS. teje avisado.

Conteúdo

  1. Conteúdo
  2. Informações Gerais sobre a Leitura
    1. Estatísticas:
      1. Gráfico de leitura:
    2. Avaliação
    3. Processo de destaques e anotações
  3. Destaques e anotações do livro

Informações Gerais sobre a Leitura

Motivo da Leitura

  • Um dos tantos livros que baixei quando me empolguei para me aprofundar na quimbanda. Ainda que o livro não seja de quimbanda.

Summary

  • O livro discute a história inicial da Umbanda, as diferentes vertentes do Espiritismo na época e aspectos como médiuns, cura espírita e materialização a partir da perspectiva do autor Leal de Souza.



Estatísticas:

Início da leitura: 04/12/2023
Finalização: 14/12/2023


Avaliação

Nota: ★★★★

Quick Review


Destaques e anotações do livro

Leal de Souza - O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda - Fundamentos de Axé (2020)
por Leal de Souza

Prefácio. Silêncio… [Nikolas Peripolli]

Essa foi a sensação que tive ao terminar de reler o primeiro livro de Umbanda. Um livro que representa nossa ancestralidade espiritual e a luta de pessoas que, em uma época difícil para o florescimento da espiritualidade, lutaram em nome da Umbanda por amor e fé. Repito: apenas por amor e fé. Uma luta que nos beneficiou e que nos beneficia todos os dias.
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a imensa importância que esta reedição do primeiro livro de Umbanda significava para todos nós da religião. Um resgate de nossa história e, principalmente, da“Primeira Umbanda”.
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A história da religião nos mostra que seu maior significado é a liberdade, que também é seu símbolo principal. Amor, humildade e caridade são consequências da liberdade que a Umbanda proporciona a todos, seja ela física, psicológica ou espiritual. A Umbanda nasceu de uma miscigenação entre povos escravizados e culturas elitistas, mostrando claramente que podemos—e devemos—viver para sermos livres.
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O livro mais importante da Umbanda, em minha opinião, nasce das mãos de Leal de Souza, que foi o primeiro autor a esclarecer a religião a partir de diversos artigos que viriam a se tornar o primeiro livro sobre o assunto. Na época, a Umbanda começava a se estabelecer na casa de Zélio Fernandino de Moraes e nos quatro quantos do Brasil, de forma silenciosa, mas intensa. O Primeiro Congresso de Umbanda ainda não havia sido realizado e poucos movimentos de outras vertentes da Umbanda haviam se manifestado no Rio de Janeiro. Antes de iniciar sua série de artigos, Leal de Souza já havia montado uma enorme investigação sobre as diversas práticas espirituais existentes no Rio de Janeiro, veiculadas no jornal A Noite, que originou o livro No mundo dos espíritos(1925), no qual a Umbanda é retratada, pela primeira vez, em um capítulo intitulado“O centro espírita Nossa Senhora da Piedade”.
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Dessa vez, sua real intenção era distinguir a Umbanda de qualquer outro culto ou prática—do falso Espiritismo, do baixo Espiritismo, da magia negra, da feitiçaria e da macumba. Nota-se que Leal de Souza escreve com muitos detalhes sobre todos os tipos de práticas espirituais realizadas do Rio de Janeiro, explicando cada uma delas até chegar na de Zélio. Na época, o jornalista catalogou 99 subdivisões do Espiritismo, mostrando que essa religião poderia ser praticada de diversas formas. Com esse pensamento, Leal começa a construir um caminho de aceitação para a Umbanda—que até então era considerada uma vertente do Espiritismo—inicialmente no Rio de Janeiro, que era o berço pulsante de diversos cultos.
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Em 27 de novembro de 1932, Leal de Souza escreve o artigo que daria início a uma série de outros dedicados apenas à Linha Branca de Umbanda e Demanda. Nesse conjunto de textos, o autor discorre sobre tudo o que aprendeu na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, com Zélio de Moraes, com o Caboclo das Sete Encruzilhadas e com Pai Antônio.
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Não faça uma leitura aplicando o contexto atual, mas permita que sua mente entenda o momento político e social no qual o Brasil, e principalmente o Rio de Janeiro, se encontrava.
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deixo aqui minha emoção por poder reler mais uma vez o capítulo que fala sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas, no qual Leal de Souza aborda como a entidade recebeu a missão de anunciar a Umbanda: Estava esse espírito no espaço, no ponto de interseção de sete caminhos, chorando sem saber que rumo tomar, quando lhe apareceu, na sua inefável doçura, Jesus, e, mostrando-lhe, em uma região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão humana, indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário do consolo e da redenção. Em lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade, e para se colocar ao nível dos trabalhadores mais humildes, o mensageiro do Cristo tirou o seu nome do número dos caminhos que o desorientavam e ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
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Prólogo. Espiritismo, magia e as Sete Linhas de Umbanda

Mas, em nenhuma região, o Espiritismo alcança a ascendência que o caracteriza em nossa capital.[ 2] É preciso, pois, encará-lo com a seriedade que a sua difusão exige. No intuito de esclarecer ao povo e às próprias autoridades sobre culto e práticas amplamente realizados nesta cidade, o Diário de Notícias convidou um especialista nesses estudos, o sr. Leal de Souza, para explaná-los, no sentido explicativo, em suas colunas.
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Depois de convertido ao Espiritismo, o sr. Leal de Souza fez durante seis anos, com auxílio de cinco médicos, experiências de caráter científico sobre essas práticas, e principalmente sobre os trabalhos dos chamados caboclos e pretos.
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O sr. Leal de Souza, nos seus artigos sobre“O Espiritismo e as Sete Linhas de Umbanda”, não vai fazer propaganda, mas elucidação, mostrando-nos as diferenciações do Espiritismo no Rio de Janeiro, as causas e os efeitos que atribui às suas práticas, dizendo-nos o que é e como se pratica a feitiçaria, tratando não só dos aspectos científicos, como ainda da Linha de Santo, dos pais de mesa, do uso do defumador, da água, da cachaça, dos pontos, em suma, da magia negra e da branca.
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I. Explicação inicial

Como nos ensina o seu codificador, o Espiritismo não veio destruir a religião, mas sim consolidá-la e revigorar a fé, trazendo-lhes novas e mais positivas demonstrações da imortalidade da alma e da existência de Deus.
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As religiões, sabem-no todos, são caminhos diversos e às vezes divergentes, conduzindo ao mesmo destino terminal.
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Seria negar a Deus os atributos humanos da inteligência e da justiça admitirmos que o Criador fosse capaz de desprezar ou punir as Suas criaturas, porque não O amam do mesmo modo, orando com as mesmas palavras, segundo os mesmos ritos.
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Os homens é que escolhem, por sua cultura ou pelas tendências de cada alma, em seu núcleo de evolução, a maneira mais propícia de cultuar e servir a Divindade.
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II. Os perigos do Espiritismo

A perturbação ou desequilíbrio nervoso causado pelo receio de ver fantasmas desaparece com a frequência às sessões, nas quais o trato com os desencarnados habitua as manifestações de sobrevivência da alma, repondo-as na ordem das coisas naturais. Mas as sessões nem sempre despertam aquele receio, e, conforme a natureza da reunião, algumas, empolgando pela beleza ou surpreendendo pelo exotismo das cerimônias, não inspiram, mesmo a quem a elas assiste pela primeira vez, ideia de morte ou cemitério, pensamento em duende ou defunto.
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Não se deve confundir a loucura com a obsessão. A loucura é consequência de uma lesão, ou a resultante do desequilíbrio de funções orgânicas. A obsessão é, por diversas fases, a ação de uma entidade espiritual sobre um indivíduo carnado,[ 3] visando prejudicá-lo. Essa influência começa por uma simples aproximação, que se torna lesiva pela qualidade dos fluidos lançados pelo agente sobre o paciente; passa, depois, à atuação, e a inteligência deste se ressente das sugestões daquele; atinge, com frequência, a posse, em que o obsedado se submete a um domínio estranho, e não raro a sua personalidade se afunda e desaparece, sendo substituído no corpo, sem ruptura dos elos essenciais à existência material, o seu espírito por outro espírito.
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É fora dos recintos espíritas, no ambiente livre à ação de todas as entidades, que as pessoas possuidoras de predicados mediúnicos, e também as que não os possuem, são dominadas pelos obsessores, que as levam para os hospícios, se não as socorrer a caridade dos espíritas.
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Também depois do tratamento, já liberto dos obsessores, o reintegrado em si mesmo cai em mole prostração e necessita, muitas vezes, de revigorar-se com tônicos, porque o seu organismo se ressente da ausência dos fluidos alheios, do mesmo modo que se perturba com a supressão do álcool o organismo de um ébrio. Perigos reais no Espiritismo só os há para os médiuns que se desviam na vida social e cometem erros conscientes. Esses, perdendo a assistência dos espíritos protetores, ficam sendo espelhos em que se refletem todos os transeuntes.
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III. As subdivisões do Espiritismo

O Espiritismo científico, com o rigor integral de suas pesquisas, é o menos cultivado na capital do Brasil, certamente pelos pendores religiosos de nosso povo. O Kardecismo, que reputa os seus aderentes os únicos praticantes da doutrina, como a pregava Allan Kardec, igualmente varia, onímodo, em seus processos e práticas.
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transição, fundados sem o objetivo real de sua finalidade, e que servem para facilitar aos egressos de outras religiões a passagem para o Espiritismo. Aparecem depois, no espaço em que as autoridades localizam o que chamam“falso Espiritismo” e o que consideram“baixo Espiritismo”, a macumba, com os seus trabalhos compassados ao ritmo de batuques, tambores e rústicos instrumentos africanos; a feitiçaria, com suas variantes, inclusive a magia negra. Não temos, porém, o Candomblé, talvez originário do Congo e praticado na Bahia, em Alagoas e, possivelmente, em regiões do Norte. O Espiritismo de Linha compreende, pelo menos, 99 subdivisões, ou linhas, que são as de que eu tenho conhecimento; nem todas, porém, praticadas à beira da Guanabara.
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Conta-se, finalmente, a Linha Branca de Umbanda, com as suas sete seções, tornada poderosa, no sentido numérico, pelas necessidades de defesa da gente ameaçada pelos excessos das linhas da cor oposta à de sua designação. Em todos os agrupamentos espíritas do Rio de Janeiro, excetuados parcialmente os das linhas ditas negras, a finalidade é a mesma: o aperfeiçoamento da individualidade humana pela prática das leis divinas, mediante a cultura dos sentimentos superiores e o domínio do instinto animal, expressos tais esforços em atos de piedosa solidariedade fraternal.
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IV. A transfusão do pensamento

Assim, em um agrupamento reputado entre os adeptos do Espiritismo, consagra-se uma sessão semanal diurna à“harmonia nos lares”, procurando-se, durante duas horas, por meio dessas correntes telepáticas, reajustar os elos de união dos casais em desentendimentos. Talvez haja quem não acredite na eficácia desse generoso esforço, mas a minha impressão, baseada em pacientes observações, é que são muitíssimos os casos em que os transmissores obtêm êxito completo e numerosos aqueles em que conseguem atenuar dissídios e desavenças domésticas. Com as mesmas designações e mediante o mesmo processo, procura-se reabastecer de fluidos, à distância, um indivíduo de forças psíquicas depauperadas. Nesse caso, as mentalizações são comparáveis à transfusão do sangue com que um indivíduo sadio concorre fraternalmente para a restauração de um enfermo, e quem as faz também se despoja, em benefício do próximo, de energias necessárias ao equilíbrio do próprio organismo. Os praticantes das mentalizações, porém, fazendo-as coletivamente, não se exaurem, e, com facilidade, ajudados às vezes por seus guias, mediante o simples repouso das horas noturnas, readquirem os fluidos com que acudiram o irmão abatido e prostrado.
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V. Os médiuns curadores

A quase totalidade das crianças revela portentosos predicados mediúnicos, porém só uma pequena minoria de adultos é constituída de médiuns. Assim, na quase totalidade dos indivíduos, a mediunidade se embota precocemente. Devemos, porém, considerá-las uma faculdade concedida à generalidade das criaturas humanas, em grau diferente, dependendo o seu aproveitamento das circunstâncias adversas ou favoráveis de cada existência.
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As crianças, antes dos 12 anos, não devem ser admitidas nas sessões que não sejam de preces ou doutrinação, pois, nas outras, basta o reflexo dos trabalhos para lhes abrir a mediunidade e, portanto, prejudicá-las.
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Entre os médiuns, os mais conhecidos e procurados são, naturalmente, os curadores e os receitistas.
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a mediunidade curativa se exerce em nome da caridade e não pode ter por objetivo negá-la aos médicos, tirando-lhes, como concorrente gratuita, os recursos de subsistência.
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Logicamente, dentro da doutrina, deveriam recorrer aos médiuns curadores, em primeiro lugar, os pobres destituídos de meios para remunerar o clínico profissional; depois, os enfermos julgados incuráveis; e, por fim, os crentes cuja fé exigisse o tratamento espiritual. Sob esse critério, a caridade continuaria a ser feita, conforme as necessidades reais dos doentes; não seria o médico atingido nos seus privilégios, nem a ciência perderia o estímulo peculiar ao progresso.
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Os médiuns curadores receitam por intuição, audição, incorporação ou mecanicamente. Os intuitivos, em face do doente ou de seu nome, recebem do espírito que o examina a indicação telepática do medicamento a ser aplicado; os outros, ouvem-na. Nos médiuns de incorporação, é o próprio espírito que diretamente escreve ou dita a receita ao consulente. Nos mecânicos, é ainda o espírito que os toma e domina o braço para escrever.
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Aqueles que muitas vezes se enganaram em diagnósticos e tratamentos não admitem equívocos em receitas mediúnicas, e geralmente não os há nessas prescrições, pois só alcançam permissão para o exercício da medicina os espíritos em condições de não prejudicar os enfermos com erros e deficiências.
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Os receitistas do espaço, muitas vezes, são médicos que, na vida terrena, restringiram a clínica e, por consequência, os benefícios provenientes dela.
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A um desses clínicos acompanhei, por algum tempo. Curioso, avidamente observando os trabalhos, dizia, em face dos resultados obtidos:—Eu acho isso tudo absurdo, mas devo estar em erro, porque no fim sai certo. No terceiro mês de suas investigações, descobriu que tinha qualidades de médium e quis aproveitá-las, na esperança de facilitar as suas pesquisas. Começou a receber espíritos. Eu marcava, no relógio, a hora de sua incorporação e a da desincorporação. O maior período daquela foi de uma hora e vinte minutos. Ao reintegrar-se em sua personalidade, perguntou-me:—Que fiz nessa hora? Não me lembro. Parece-me que estive dormindo, mas estou cansado. O meu protetor trabalhou?—Trabalhou, e brilhantemente. Sério, o médico considerou:—Pode ser que ele faça maravilhas, mas, desde que as faz com o meu corpo e sem o meu conhecimento, não me serve a companhia. Acrescentou:—Os espíritos são egoístas, não revelam o que sabem. Aqui não se aprende nada. Deixo a tenda e deixo o Espiritismo. E confessou em um sorriso:—Estou quase arrependido de ter emprestado o meu corpo. Receio que esse ilustre defunto possa encarapitar-se no meu lombo(sem o meu consentimento) e faça brilharetos que me comprometam. Foi dissipado esse receio.
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VI. Materialização

O estudo científico do Espiritismo com objetivo experimental não deve ser feito em locais onde se realizem trabalhos espíritas de outra natureza. Sei, por experiência própria, que nos centros de caridade os resultados dessas tentativas são mais ou menos precários, pois os espíritos chamados sofredores invadem o recinto e perturbam as observações, sem que a finalidade dos centros permita afastá-los. Todos os pesquisadores que, no Brasil, chegaram à constatação positiva dos fenômenos de materialização efetuaram as suas experiências em instalações especiais.
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O ilustre médico dr. Oliveira Botelho, ministro da Fazenda, no último governo constitucional, viu operar-se diante de seus olhos a ressurreição transitória de uma de suas filhas, por ele conduzida ao cemitério, sendo também consagradas pelo êxito pleno outras experiências realizadas, sob fiscalização rigorosa pelo sábio engenheiro dr. Americo Werneck, a algumas das quais assisti.
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—Veja. Será a mão de uma morta?—e tocou-me na mão. Era tépida. Louvei as rendas de seu vestuário, e ela, erguendo o braço em curva graciosa, estendeu-as, as da manga, sobre as minhas mãos:—Pode ver. São antigas. Ousei insinuar:—Como seriam as sandálias no seu tempo…—No meu tempo eram chinelas—respondeu e, caminhando até a mesa existente no fundo da sala, voltou com uma pequena bilha e um copo. Ofereceu e serviu água a todos os assistentes, trocando frases com eles; depois de cumprimentar-nos, avisando que se retirava, repôs a bilha e o copo na mesa e começou a esbater-se, desfazendo-se, até desaparecer.

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De algumas das materializações verificadas em Belém tiraram-se fotografias, mediante uma fórmula especial, constante do livro O trabalho dos mortos,[ 4] do sr. Nogueira de Faria.
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Como se sabe, o espírito se materializa com os fluidos do médium. Entrando este em transe, começa a constituição do fantasma, e, ao passo que a sua forma se acentua, o médium como que deperece, às vezes respirando em haustos e não raro exalando suspiros quase angustiosos. Os guias desses trabalhos exigem que não se aperte a mão nem órgão algum do espírito materializado, porque imediatamente o médium se ressente e com frequência adoece.
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VII. O copo, a prancheta, a mesa

Mas o mais aconselhável, por dar menos motivos a dúvidas, é o espírito operar somente com os fluidos do médium, que pode ficar de olhos fechados, acompanhando, porém, com o braço, os movimentos do copo ou da prancheta, que lhe levam a mão, orientando-a. Mas, em circunstâncias favoráveis, sendo homogênea a corrente de pensamento, a prancheta e o copo se movem e se deslocam, atingindo as letras, sem o contato da mão do médium.
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—Sabeis—perguntou-me uma vez o guia—que no corpo humano há um elemento, propriedade, essência, ou fluido, que desintegrado dele tem mais força do que o próprio organismo integrado?—Teoricamente—respondi. Chamou uma das médiuns, uma moça franzina de 21 anos, e mandou-a colocar as mãos sobre uma mesa para dezesseis pessoas, que em menos de dez minutos se elevou a altura tal que a médium, para não perder o contato, teve de erguer os braços e ficar quase em pontas de pés. Concluída essa fase da prova, mandou o guia que a mesma médium levantasse a mesa com os braços, naturalmente, e a senhorita, não obstante os seus esforços, só lograva alçar-lhe uma das cabeceiras ou um dos lados, mas nunca o todo.
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Crawford,[ 5] na Irlanda, conseguiu que os espíritos extraíssem o fluido de um médium para pesá-lo. Postos este em uma balança e aquele em outra, a que recebia os fluidos acusou o peso de 28 quilos, e a do médium assinalou em seu peso uma diminuição correspondente, mas a experiência foi suspensa porque o paciente começou a sofrer angústias e aflições, com ameaças de vertigem. O transporte de objetos de um para outro lugar, por distâncias várias, e que não tive oportunidade de estudar convenientemente, é feito, segundo os espíritos, mediante um processo de desmaterialização e rematerialização.
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VIII. Fenômenos de materialização e efeitos físicos espontâneos

Vi-o com o meu amigo, em um prédio de sua propriedade, à Rua dos Andradas, onde funcionou por muitos anos—disse-nos ele—uma pensão alegre de mulheres. Contou-nos, então, que as coisas pouco haviam mudado com a última mudança. Frequentemente, à hora das refeições, um braço de mulher desnudo e alvo, com pulseira e os dedos cheios de anéis, aparecia na mesa e, suspenso no ar, como se fosse de uma pessoa que ali estivesse sentada, retirava uma flor de um vaso e se evaporava, deixando-a cair. Disse-nos que era vulgar o aparecimento de mãos delicadas segurando o reposteiro que separava a sala de jantar da de visitas e que, em uma ocasião, o sentiu correr por inteiro e viu uma formosa mulher, muito branca, em um luxuoso vestido de baile, emoldurada nos umbrais das portas.
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O médium solitário constatava com serenidade os fenômenos e, ao verificá-los, assegurou, não sentia a mais leve sombra de medo, porém, naquele tempo, andava aborrecido e contrariado, porque debaixo de seu leito rangiam e se arrastavam correntes que ninguém conseguia ver, mas que não o deixavam dormir. O depoente era um homem discreto e reservado, de alta responsabilidade no comércio, e não me permitia relatar o seu caso, tendo entrado em contato comigo na esperança de que eu lhe fornecesse elementos para encontrar a explicação dos fenômenos fora do Espiritismo. Não acreditava em espíritos. Os fatos por ele narrados, iguais a centenas que enchem os livros, indicam que nem sempre é necessário produzir, no médium, o transe ou o sono hipnótico para que se realize a materialização.
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Interessante
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IX. A vidência

Opina-se também que os quadros fluídicos são apenas o reflexo do nosso próprio pensamento, mas as minhas experiências nunca confirmaram essa afirmação. Os quadros fluídicos representam cenas do passado, do presente e até do futuro, além de alegorias. Para estabelecer a diferença entre elas, bastam, em geral, os conhecimentos de cada qual, esclarecidos pelas circunstâncias momentâneas, relativas aos espíritos, em atuação, ou aos objetivos do grupo. Em certas épocas, quando os assinalam acontecimentos extraordinários, que sacodem as populações, trechos ou fases dessas ocorrências se retratam, com animação vigorosa, nos quadros projetados nas sessões e até fora desses recintos, pois os videntes os vislumbram em diferentes lugares.
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Nos casos normais, os espíritos se apresentam com a estatura que tinham na vida material, às vezes esbatidos, como sombras resvalantes, e às vezes assemelhando-se aos carnados. Não é raro ver somente a cabeça ou as mãos de uma entidade. Os espíritos superiores, os de luz, ofuscam a vista, dificultando e até impedindo a visão, com o esplendor luminoso de sua irradiação. A vidência é suscetível de um desenvolvimento assombroso, porém inconveniente, pois não só os quadros fluídicos nem sempre revelam aspectos agradáveis, como a constante confusão dos espíritos com as pessoas carnadas origina equívocos comentados maliciosamente.
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X. A cura da obsessão

Cura-se a obsessão, nos centros kardecistas, branda e lentamente, mediante a doutrinação do obsessor, e, como este frequentemente tem numerosos companheiros, o doutrinador tem de multiplicar os seus esforços. O obsessor, quando se atirou à prática do mal, usou do livre-arbítrio concedido por Deus a todas as criaturas, e o kardecista, no seu rigorismo doutrinário, procura demonstrar-lhe o erro, encaminhando-o para a felicidade. E, nesse elevado empenho, discute, ensina, pede, até convencê-lo.
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Lembrando do João caveira nos perguntando de certo e errado.Pontuando sobre não interferirmos no livre arbítrio
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Na Linha Branca de Umbanda, o processo é mais rápido. O kardecista é um mestre; o filho de Umbanda é um delegado judiciário. Entende que pode usar de seu livre-arbítrio para impedir a prática do mal. O espírito, o protetor, é, na Linha Branca de Umbanda, quem se incumbe da cura. Inicialmente, verifica o estado fisiológico do enfermo, para regular o tratamento, dando-lhe maior ou menor intensidade. Em seguida, aconselha os banhos de descarga, para limpeza dos fluidos mais pesados, e o defumador, para afastar elementos de atividade menos apreciável. Investiga depois a causa da obsessão e, se a encontra na magia, realiza imediatamente o trabalho propiciatório—de anulação—, igual ao que determinou a moléstia. Frequentemente, basta esse trabalho para libertar o obsedado, que fica, por alguns dias, em estado de prostração. Se a causa da doença(permitam-me o vocábulo) era antiga e o doente não se repôs logo—e nos casos que não são ligados à magia—, o protetor afasta o obsessor, manda doutriná-lo, e, se o rebelde não se submete, é levado para regiões ou estações do espaço de onde não pode continuar a sua atuação maléfica. Não raro, quando o obsedado não assiste à sessão em seu benefício, o protetor, atraindo-o durante o sono por um processo magnético, traz o seu espírito à reunião e incita-o a reagir contra os estranhos que desejam dominá-lo, mostra-lhe que não está louco e que deve provar, com a sua conduta, a sua integridade mental.
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XII. O baixo Espiritismo

Vendo realizar-se a parábola do Evangelho, perguntei ao desconhecido quem lhe ensinara o meu nome. Disse-me que me vira em um centro paupérrimo fazendo uma conferência. E outra ocasião, em uma assembleia de humildes, quando terminei uma alocução sobre a ignorância de certos presidentes de núcleos espíritas, o guia dos meus ouvintes, tomando o seu aparelho, apenas disse:—Quando Jesus escolheu os seus discípulos, não os procurou entre os doutores, mas entre os humildes. O baixo Espiritismo não é o dos humildes, é o dos perversos, que o praticam por dinheiro, vendendo malefícios.
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XIII. A feitiçaria

Além de muitos outros cientistas, Crawford, professor de Mecânica Aplicada da Universidade de Belfast, em pacientíssimas experiências, provou que o corpo humano possui uma propriedade, ou fluido, que se exterioriza, e conseguiu fotografá-lo exteriorizado. O coronel Rochas, conhecido sábio francês, em seu livro Exteriorização da sensibilidade[ 7] e em diversas obras, enumera experiências comprobatórias daquela propriedade.
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Preciso verificar isso
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É sobre essa propriedade, fluido ou sensibilidade suscetível de exteriorizar-se que o feiticeiro geralmente atua para atingir a personalidade humana, podendo influir sobre o pensamento, causar moléstias, provocar a morte e até beneficiar o organismo. O feiticeiro trabalha sem ou com o auxílio de espíritos, de sua categoria, pelos princípios, mas dotados de formidável poder de atuação física, favorecidos pela invisibilidade, que os torna clandestinos. Essas entidades são, frequentemente, colaboradoras espontâneas dessas práticas, e, por isso, muitas pessoas, sem que o pretendam, cometem atos análogos aos da feitiçaria, pois atraem, com pensamentos vigorosos, esses auxiliares intangíveis, que logo se transformam em agentes de vontades hostis ao próximo. É por essa causa—e pela força ativa do pensamento—que a inveja, sobretudo comprimida, e o ódio, principalmente o calado, causam, não raro, danos reais, sem que os seus cultores os manifestem em ações materiais.
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Quem as efetua, porém, se expõe a perigos, pois, se o dardo que lançou encontra resistência e é repulsado, retorna com redobrada violência contra quem o arremessou.
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Quando o praticante se aventura a cometimentos que se aproximam da magia, que é regulada por uma liturgia só conhecida de determinadas entidades imateriais, multiplica-se aquele perigo, pois às vezes um erro de insignificância aparente desencadeia, no espaço, forças que o punem com o esmagamento.
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O feiticeiro é um trabalhador empírico. Desconhece as causas em seus fundamentos e conhece os efeitos em seus resultados.
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XIV. A macumba

A macumba se distingue e caracteriza pelo uso de batuques a tambores e alguns instrumentos originários da África. Essa música, bizarra em sua irregularidade soturna, não representa um acessório de barulho inútil, pois exerce positiva influência nos trabalhos, acelerando, com as suas vibrações, os lances fluídicos.
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Os trabalhos que, segundo os objetivos, participam da magia, ora impressionam pela singularidade, ora assustam pela violência, ora surpreendem pela beleza. Obrigam à meditação, forçam ao estudo, e foi estudando-os que cheguei à outra margem do Espiritismo.
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Me identifico com essas palavras na caminhada espiritual
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XV. A magia negra

Como a branca, que lhe é adversa, a magia negra, para a consecução de seus objetivos, opera com as forças da natureza, propriedades de produtos da fauna e da flora do mar, de corpos minerais, de vegetais, de vísceras e órgãos animais, com elementos do organismo humano e com atributos ou meios só existentes nos planos extraterrestres. A sua influência atinge as pessoas, os animais e as coisas. As entidades espirituais que realizam esses trabalhos possuem sinistra sabedoria, recursos verdadeiramente formidáveis e energia fluídica aterradora.
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Ele demonstrou de uma feita, a um grupo de curiosos da alta sociedade, a importância de coisas aparentemente insignificantes. Nos centros do Espiritismo de Linha, pede-se, durante as sessões, que ninguém encruze as pernas e os braços. Parece uma exigência ridícula, e não o é. Provou-o exu. Quando incorporado, passeava descalço sobre os cacos de vidro. Para fazer compreender a transcendência daquela recomendação, mandou que uma senhora trançasse a perna, e logo os pedaços de vidro penetraram, ensanguentando-se os pés que os pisavam.
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Sobre cruzar as pernas
Note page: 76 location: 633

Para comprovar a força dos pontos da magia(desenhos emblemáticos, cabalísticos ou simbólicos), produziu uma demonstração sensacional. Escolheu sete pessoas, ordenou-lhes que se concentrassem sem quebra da corrente de pensamento, riscou no chão um ponto e decapitou um gato, cujo corpo mandou retirar, deixando a cabeça junto ao ponto.—Enquanto não se apagar esse ponto, esse gato não morre, e essa cabeça não deixa de miar. Durante dezessete minutos, a cabeça separada do corpo miava dolorosamente na sala, enquanto lá fora o corpo sem cabeça se debatia com vida. Os assistentes começavam a ficar aterrados. Ele apagou o ponto, e cessaram o miado gemente da cabeça sem corpo e as convulsões do corpo sem cabeça.
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Envolvimento com gatos
Note page: 76 location: 639

Tais entidades têm ufania de seu poder; são, com frequência, irritadiças e vingativas, mas, quando querem agradar a um amigo da Terra, não medem esforços para satisfazê-lo. As suas lutas no espaço, por questões da Terra, têm a grandeza terrível das batalhas e das tragédias. Essa magia exerce diariamente a sua influência perturbadora sobre a existência no Rio de Janeiro. Centenas de pessoas de todas as classes, pobres e ricos, grandes e pequenos, por motivos de amor, por motivos de ódio, por motivos de interesse, recorrem aos seus sortilégios. A política foi e continua a ser dos seus melhores e mais assíduos clientes.
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Política, rio de janeiro, vingativos mas com favoritos na terra
Note page: 77 location: 644

Durante a revolução de São Paulo,[ 8] essas hordas do espaço travaram pugnas furiosas, lançando-se umas contra as outras. As que se moveram pelos paulistas esbarraram com as que foram postas em ação em favor da ditadura, e esses choques invisíveis, nos planos que os nossos sentidos não devassam, decerto ultrapassaram, em ímpeto, as arremetidas do plano material. Sobre o enraivecido desentendimento das legiões ditas negras, pairavam as falanges da Linha Branca de Umbanda e os espíritos bons e superiores de todos os núcleos de nosso ciclo, levantando muralhas fluídicas de defesa para que os governantes de São Paulo e do Rio não fossem atingidos pela perturbação e, na plenitude de suas faculdades, medindo a extensão da desgraça, compreendessem a necessidade de negociar e concluir a paz.
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Sobre a ditadura
Note page: 77 location: 651

A atividade da magia negra tem três modos de ser contrastada: a oposição de seus próprios elementos, a defesa a que se obriga a Linha Branca de Umbanda e a atuação dos guias superiores. Creio que, perdendo a solene pompa do cerimonial antigo, a magia perdeu em eficiência, porque a colaboração do elemento humano pensante e sensível diminuiu. O homem que aspira ao domínio da magia necessita de aprofundar-se em estudos muito sérios, sobretudo os da ciência, para conhecer as propriedades dos corpos e suas afinidades, e precisa, ainda, desenvolver e governar com intransigência de ferro as faculdades da alma, as forças psíquicas e as energias do instinto. Isso não é fácil, e o praticante da magia, em nosso tempo, tem de subordinar-se em absoluto à vontade de um espírito, que, em geral, só lhe permite um lucro mesquinho. Nessas condições, o indivíduo que se poderia chamar o mago negro cada dia se tornará mais raro, desaparecendo a pouco e pouco o contato da humanidade com essa ordem de espíritos.
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XVI. A Linha Branca de Umbanda e Demanda

A organização das linhas no espaço corresponde a determinadas zonas na Terra, por largos ciclos no tempo. Atendem-se, ao constituí-las, às variações de cultura moral e intelectual, aproveitando-se as entidades mais afins com as populações dessas paragens. Por isso, o Espiritismo de Linha se reveste, nos diversos países, de aspectos e características regionais. Nas falanges da Linha Branca de Umbanda e Demanda, já se identificaram índios de quase todas as tribos brasileiras, sendo que numerosos destes foram europeus em encarnações anteriores; pretos da África e da Bahia, portugueses, espanhóis, muitos ilhéus malaios, muitíssimos hindus.
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O caboclo autêntico, vindo da mata, mediante um aprendizado no espaço, para a Tenda, tem o entusiasmo intolerante do cristão novo, é intransigente como um frade, atira-nos à face os nossos defeitos e até com as nossas atitudes se mete. Ouvindo queixas dos que sofrem as agruras da vida, responde zangado que o Espiritismo não é para ajudar ninguém na vida material e atribui os nossos sofrimentos a erros e faltas que teremos de pagar. Mas, em dois ou três anos de contato com as misérias amargas de nossa existência, suaviza a sua intransigência e acaba ajudando materialmente os irmãos carnados, porque se condói de sua penúria e deseja vê-los contentes e felizes.
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Caboclo
Note page: 81 location: 683

O preto, que gemeu no eito sob o bacalhau do feitor, esse não pode ver lágrima que não chore, e quase sempre sai a desbravar os caminhos dos necessitados antes que lhe peçam. O negro da África difere um pouco do da Bahia—aquele, na sua bondade, auxilia a quem pode, porém às vezes se irrita com os jactanciosos e com os ingratos, mas o da Bahia, em casos semelhantes, enche-se de piedade, pensando nas dificuldades que os maus sentimentos vão levantar na estrada de quem os cultiva.
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A Linha Branca de Umbanda e Demanda tem o seu fundamento no exemplo de Jesus, expulsando a vergalho os vendilhões do templo.
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O homem prejudica o seu semelhante por inconsciência, ignorância ou maldade. Nos dois primeiros casos, a Lei de Umbanda manda esclarecer quem está em erro até convencê-lo de sua falta, impedindo-o desde logo de continuar a sua ação maléfica. No terceiro[ 9] caso, reprime singelamente o perverso. Para exemplificar: a polícia, com frequência, sitia e fecha centros espíritas ou aqueles que como tais se apresentam e prende os seus componentes. Quando o centro, como tantas vezes tem acontecido, é da Linha Branca, o seu guia considera:“A autoridade cometeu uma injustiça, sem a intenção de cometê-la. O seu desejo era cumprir o dever, defendendo a sociedade. Confundiu a nossa linha com a outra, tratando-nos como malfeitores sociais. Devemos procurar esclarecer os poderes públicos para evitar confusões semelhantes”. Se a casa atingida pela perseguição policial pertencia à magia negra, o que raríssimas vezes acontece, as entidades espirituais reagem e castigam até com brutalidade os repressores de sua atividade. Há muitos ex-delegados que conhecem a causa de desgraças que os feriram na situação social e na paz dos lares.
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Tô mais com a magia negra mesmo
Note page: 82 location: 698

O objetivo da Linha Branca de Umbanda e Demanda é a prática da caridade, libertando de obsessões, curando as moléstias de origem ou ligação espiritual, desmanchando os trabalhos da magia negra e preparando um ambiente favorável à operosidade de seus adeptos.
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Objetivo da umbanda
Note page: 82 location: 700

Os sofrimentos que nos afligem são uma prova, ou provação, ou provêm dos nossos próprios erros ou da maldade dos outros. Em caso de prova, temos de suportá-la até o limite extremo, e os filhos de Umbanda procuram atenuá-la, ensinando-nos a resignação, mostrando-nos a bondade de Deus, que nos permite o resgate de nossas culpas sem puni-las com penalidades eternas, descrevendo-nos os quadros de nossa felicidade futura. Se as nossas dores e dificuldades significam consequências de nossas faltas, os protetores de Umbanda nos aconselham a repará-las, conduzindo-nos com amor e paciência ao arrependimento. Na terceira hipótese, reprimem energicamente os malvados que nos perseguem do espaço para cevar ódios da Terra. Nas angústias de nossa vida material, afastam de nosso ambiente, purificando-os, os fluidos da inveja, da cobiça, da antipatia e da inimizade.
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Sobre os sofrimentos que nos atingem
Note page: 83 location: 706

O tratamento da obsessão, as curas das doenças de natureza espiritual, constituem os trabalhos de“caridade”, e os outros, os de“demanda”, porém os dois são absolutamente gratuitos. Se algum médium se esquece de seus deveres e recebe dinheiro ou coisa correspondente pela caridade feita por seu protetor, este se retira, abandonando-o a entidades que em geral o reduzem à miséria.
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A hierarquia, na Linha Branca, é positiva, mantendo-se com severidade. Todos os seus dirigentes espirituais proclamam e reconhecem a autoridade de Ismael, guia do Espiritismo no Brasil.
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Ismael, guia do espiritismo no Brasil
Note page: 83 location: 711

A incorporação é sempre um fenômeno complexo, que se processa mediante acidentes psicológicos, psíquicos e espirituais, e tem na Linha Branca de Umbanda a expressão máxima de sua transcendência. Vulgarmente, basta que o espírito se assenhoreie dos órgãos cerebrais, vocais e manuais, ou de todos os chamados nobres, para fazer a comunicação verbal ou escrita e dar passes. Na Linha Branca, precisa apropriar-se de todo o organismo do médium, porque nesse corpo vai viver materialmente algumas horas, movendo-se, utilizando-se de objetos, às vezes suportando pesos. A incorporação, na Linha Branca, é quase uma reencarnação, no dizer de um espírito.
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Sobre a incorporação
Note page: 83 location: 716

Dir-se-á que todos os socorros prestados pela Linha Branca poderiam ser prestados, sem os seus trabalhos, pelos altos guias, pelos espíritos superiores. Os espíritos de luz que baixam à Terra e se conservam em nossa atmosfera orientam falanges ou desempenham outras missões e não contrariam, nem poderiam contrariar, desígnios em que se enquadram as funções de todos os servos da fé, grandes ou pequeninos. Se em algumas situações lhes é permitido exercer a sua ação instantânea em favor de quem soube merecê-la, na maioria das circunstâncias deixam o indivíduo, pelas faltas do passado ou pelas culpas do presente, submeter-se ao que lhe parece uma degradação.
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XVII. Os atributos e peculiaridades da Linha Branca

Antes, porém, é conveniente estabelecer e afirmar que as imagens muitas vezes existentes nos recintos das sessões da Linha Branca não representam um contingente obrigatório do culto, pois são apenas permitidas ou antes significam uma concessão dos guias, tornando-se, com frequência, necessárias para atender aos hábitos e predileções de muitíssimas pessoas e de muitíssimos espíritos.
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Quando se coloca uma imagem em um recinto de trabalho, celebra-se o seu“cruzamento”, cerimônia pela qual se estabelece a sua ligação fluídica com as entidades espirituais responsáveis pelas reuniões. Renova-se essa ligação automaticamente sempre que há sessão, durante a qual a imagem se transforma em centro de grandes e belos quadros fluídicos.
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Linguagem: A Linha Branca de Umbanda tem um idioma próprio para regular o seu trabalho, designar os seus atributos e cerimônias e evitar a divulgação de conhecimentos suscetíveis de uso contrário aos seus objetivos caridosos. Em suas manifestações, conversando entre si, os espíritos, para não serem entendidos pelos assistentes, empregam o linguajar de cabildas africanas,[ 10] de tribos brasileiras, ou das regiões onde encarnaram pela última vez. No trato com as pessoas, excetuados os grandes guias, usam a nossa língua comum, deturpando-a à maneira dos pretos ou dos caboclos. Esses trabalhadores do espaço desejam que os julguem atrasados, a fim de que os indivíduos que se reputam superiores e são obrigados a recorrer à humildade de espíritos inferiores percebam e compreendam a sua própria inferioridade.
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Roupa: Usam-se, em certos trabalhos, roupas brancas para evitar o amortecimento e a arritmia das vibrações, pela diversidade de coloração. Pode-se acrescentar que os filhos de Umbanda aconselham o uso habitual dos tecidos claros, pelas mesmíssimas razões expressas no apelo dirigido há anos pelo clube médico desta capital, quando pediu à população carioca o abandono dos padrões escuros.
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Motivo de usar branco
Note page: 88 location: 751

Calçado: Em certas ocasiões, trabalha-se com os pés descalços, quando não é possível mudar o calçado na tenda, pois os sapatos com que andamos nas ruas pisam e afundam, principalmente nas esquinas, em fluidos pesados, que se agitam como gazes à flor do solo e que dificultam as incorporações ou se espalham pelo recinto da reunião, causando perturbações.
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Motivo de andar descalço
Note page: 88 location: 754

Atitudes: Não se permite encruzar as pernas e os braços durante as sessões, porque, como vimos na magia negra, essas atitudes quebram ou ameaçam violentamente a cadeia de concentração, impedem a evolação do fluido com que cada assistente deve contribuir para o trabalho coletivo, determinam, com essa retenção, perturbações psíquicas e até fisiológicas e impossibilitam a incorporação, quando se trata de um médium. Ao descer de certas falanges, como em alguns atos de descarga, sacode-se o corpo em cadência de embalo—na primeira hipótese, para facilitar a incorporação; na segunda, para auxiliar o desprendimento de fluidos que não nos pertençam.
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Guia: É um colar de contas da cor simbólica de uma ou mais linhas. Fica, mediante o“cruzamento”, em ligação fluídica com as entidades espirituais das linhas que representa. Desvia, neutraliza ou enfraquece os fluidos menos apreciáveis. Periodicamente, é lavado nas sessões, para limpar a gordura do corpo humano, bem como os fluidos que se lhe aderiram, e de novo cruzado.
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Banho de descarga: Cozimento de ervas para limpar o fluido pesado que adere ao corpo, como um suor invisível. O banho de mar, em alguns casos, produz o mesmo resultado.
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Cachaça: Pelas suas propriedades, é uma espécie de desinfetante para certos fluidos; estimula outros, os bons; atrai, pelas vibrações aromáticas, determinadas entidades, e outros bebem-na quando incorporados, em virtude de reminiscências da vida material.
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Fumo: Atua pelas vibrações do fogo e do aroma. A fumaça neutraliza os fluidos magnéticos adversos. É frequente ver uma pessoa curada de uma dor de cabeça ou aliviada do incômodo momentâneo de uma chaga por uma fumarada.
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Defumador: Atua pelas vibrações do fogo e do aroma, pela fumaça e pelo movimento. Atrai as entidades benéficas e afasta as indesejáveis, exercendo uma influência pacificadora sobre o organismo.
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Ponto cantado: É um hino muitas vezes incoerente, porque os espíritos, que no-lo ensinam, o compõem de modo a alcançar certos efeitos no plano material sem revelar aspectos do plano espiritual. Tem, pois, duplo sentido. Atua pelas vibrações, opera movimentos fluídicos e, harmonizando os fluidos, auxilia a incorporação. Chama algumas entidades e afasta outras.
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Ponto riscado: É um desenho emblemático e simbólico.[ 11] Atrai, com a concentração que determina para ser traçado, as entidades ou falanges a que se refere. Tem sempre uma significação e exprime, às vezes, muitas coisas em poucos traços.
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Ponteiro: É um punhal pequeno, de preferência com cruzeta na manga ou empunhadura. Serve para calcular o grau de eficiência dos trabalhos, pois as forças fluídicas contrárias, quando não foram quebradas, o impedem de cravar-se ou o derribam depois de firmado. Tem ainda a influência do aço, no tocante ao magnetismo e à eletricidade.
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Pólvora: Produz, pelo deslocamento do ar, os grandes abalos fluídicos. Pemba: Bloco de giz. Usa-se para desenhar os pontos.
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Nos últimos anos, os guias não têm permitido que os centros ou tendas guardem ou possuam em suas sedes pemba, punhais ou pólvora, concorrendo, com as suas instruções, para que sejam obedecidas as ordens das autoridades públicas.
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XVIII. O “despacho”

O“despacho”, nas Linhas Negras, é um presente ou uma paga para alcançar um favor, muitas vezes consistente no aniquilamento de uma pessoa. Quando o feiticeiro trabalha sozinho, isto é, sem o auxílio de espíritos, o“despacho” representa uma concentração que se prolonga por diversas fases; se com esses auxiliares, visa atirá-los contra o indivíduo perseguido; se é da magia, contém ainda os corpos cujas propriedades devem ser volatilizadas.
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O“despacho” exerce a sua influência de quatro maneiras: pela ação individual do feiticeiro, em contato fluídico com a vítima; pela ação das entidades propiciadas, causando-lhe exasperações, inquietando-a, atacando-lhe determinados órgãos, perturbando-lhe o raciocínio com sugestões telepáticas, dominando-lhe o cérebro, produzindo moléstias e até a morte; pelo reflexo das propriedades volatilizadas e corpos usados pela magia; e pela conjugação de todos esses meios.
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A Linha Branca de Umbanda anula esses“despachos” por processos correlatos. Quando se trata da atuação individual do feiticeiro, desvia o seu pensamento, deixando-o perder-se no espaço para dar-lhe a impressão de sua impotência e evitar o“choque de retorno”, que lhe demonstraria que o seu esforço foi contrariado, estimulando-o a recomeçá-lo. Propicia as entidades em atividade prejudicial, ofertando-lhes um“despacho” igual ao que as moveu ao malefício, a fim de que elas se afastem do enfeitiçado, e frequentemente faz outro“despacho” aos espíritos das falanges brancas, mais afins com a pessoa a quem se defende, com o objetivo, este segundo despacho, de atraí-las, por meio de uma concentração prolongada, para que auxiliem a restauração mental e psíquica de seu protegido. Volatiliza as propriedades de corpos suscetíveis de neutralizar os que foram empregados pela magia. Conjuga todos esses recursos e, quando as entidades propiciadas recusam os presentes e insistem na perseguição, submete-as com energia.
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Os“despachos” aos elementos da Linha Negra, isto é, a Exu, ao Povo da Encruzilhada, são feitos nos lugares que lhes deram essa designação. Os destinados a atrair os socorros dos trabalhadores da Linha Branca, de ordinário simples e não raro de algum encanto poético, fazem-se nas matas, tais os de Oxóssi e Ogum; outros, como os de Xangô, nas pedreiras; muitos, entre esses os de Iemanjá, nas praias ou no oceano; e aqueles, a exemplo dos de Cosme e Damião, que se dirigem aos espíritos dos que desencarnaram ainda crianças, no macio gramado dos jardins e prados floridos.
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Localiza-se nos cemitérios uma vasta massa de espíritos inconscientes, semi-inconscientes, ou tendo uma noção confusa da morte e fazendo um conceito errôneo de sua triste situação: é o chamado povo do cemitério. A magia negra e os feiticeiros os atraem e aproveitam para objetivos cruéis, de uma perversidade revoltante. Com frequência, quando um desses espíritos perde de todo a noção de sua individualidade, convencem-no de que ele é uma determinada pessoa ainda viva no mundo material e mandam-no procurá-la para tomar conta de seu corpo. Na sua perturbação, com os fluidos contaminados de propriedades cadavéricas, ele, na convicção de ser quem não é, encosta-se ao outro, em um esforço desesperado de reintegração, transmitindo-lhe moléstias terríveis, abalando-o mentalmente e até arrastando-o ao campo santo, à procura da tumba. Para desfazer esse sortilégio, com os cuidados devidos ao espírito infeliz e à pessoa a que ele se apegou, é necessário recorrer ao meio de que lançou mão para produzir o mal: a magia negra.
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Não foi isso que eu vi na quimbanda até agora. João e Maria Padilha parecem cuidar desses espíritos e encaminha-los para lugares melhores.
Note page: 95 location: 826

Na noite das grandes meditações piedosas, quando, por oceanos e continentes, a cristandade comemora, com sentimento uníssono, o martírio de Jesus, o Cristo, é que se fazem os mais funestos“despachos” macabros da“banda negra”. Violam-se túmulos, roubam-se cadáveres, profana-se a maternidade, em operações de magia sobre o ventre de mulheres grávidas, e uma onda sombria de maldade se alastra, espalhando o sofrimento e o luto.
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Tá falando do Natal aqui?
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A linha de Xangô, sobretudo, se consagra à reparação do que foi destruído, a de Iemanjá lava e limpa o ambiente, as de Oxalá e Iansã amparam os combalidos, enquanto os sagitários de Oxóssi e a falange guerreira de Ogum dominam e castigam os criminosos do espaço.
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E, no entanto, o pobre filho de Umbanda, templário da ordem branca, surpreendido pela polícia à hora de“arriar o despacho”, sofre o vexame da prisão e o escândalo dos jornais porque sacrificou o seu repouso à defesa e ao bem-estar do próximo.
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Eu que não vou querer fazer caridade pra ele por conta própria
Note page: 95 location: 836

XIX. As sete Linhas Brancas

A Linha Branca de Umbanda e Demanda compreende sete linhas: a primeira, de Oxalá; a segunda, de Ogum; a terceira, de Oxóssi; a quarta, de Xangô; a quinta, de Iansã; a sexta, de Iemanjá; e a sétima é a Linha de Santo, também chamada Linha das Almas. Essas designações significam, na língua de Umbanda—a primeira, Jesus, em sua invocação de Nosso Senhor do Bonfim; a segunda, São Jorge; a terceira, São Sebastião; a quarta, São Jerônimo; a quinta, Santa Bárbara; e a sexta, a Virgem Maria, em sua invocação de Nossa Senhora da Conceição. A Linha de Santo é transversal e mantém a sua unidade através das outras. Cada linha tem o seu ponto emblemático e a sua cor simbólica. A de Oxalá, a cor branca; a de Ogum, a encarnada; a de Oxóssi, verde; a de Xangô, roxa; a de Iansã, amarela; a de Iemanjá, azul.
Highlight(yellow) page: 97 location: 843

Primeira vez que eu penso a respeito das cores de oxidai e Iemanjá, verde e azul. Antes o azul era meu favorito e depois passou para verde.
Note page: 98 location: 849

Oxalá é a linha dos trabalhadores humílimos; tem a devoção dos espíritos de pretos de todas as regiões, qualquer que seja a linha de sua atividade, e é nas suas falanges, com Cosme e Damião, que em geral aparecem às entidades que se apresentam como crianças. A linha de Ogum, que se caracteriza pela energia fluídica de seus componentes, caboclos e pretos da África, em sua maioria, contém em seus quadros as falanges guerreiras de Demanda. A linha de Oxóssi, também de notável potência fluídica, com entidades frequentemente dotadas de brilhante saber, é, por excelência, a dos indígenas brasileiros. A linha de Xangô pratica a caridade sob um critério de implacável justiça: quem não merece, não tem; quem faz, paga. A linha de Iansã consta de desencarnados que, na existência terreal, eram devotados a Santa Bárbara. A linha de Iemanjá é constituída dos trabalhadores do mar, espíritos das tribos litorâneas, de marujos e de pessoas que pereceram afogadas no oceano. A Linha de Santo é formada de“pais de mesa”, isto é, de médium“de cabeça cruzada”, assim chamados porque se submeteram a uma cerimônia pela qual assumiram o compromisso vitalício de emprestar o seu corpo, sempre que seja preciso, para o trabalho de um espírito determinado e contraíram“obrigações”, equivalentes a deveres rigorosos e realmente invioláveis, pois acarretam, quando esquecidos, penalidades aspérrimas e inevitáveis.
Highlight(yellow) page: 98 location: 849

Os trabalhadores espirituais da Linha de Santo, caboclos ou negros, são egressos da Linha Negra e têm duas missões essenciais na Branca: preparam, em geral, os“despachos” propiciatórios ao Povo da Encruzilhada e procuram alcançar amigavelmente de seus antigos companheiros a suspensão de hostilidades contra os filhos e protegidos da Linha Branca. Por isso, nos trabalhos em que aparecem elementos da Linha de Santos disseminados pelas outras seis, estes ostentam, com as demais cores simbólicas, a preta, de Exu.
Highlight(yellow) page: 99 location: 862

Na falange geral de cada linha figuram falanges especiais, como, na de Oxóssi, a de Urubatan e, na de Ogum, a de Tranca-Rua, que são comparáveis às brigadas dentro das divisões de um exército. Todas as falanges têm características próprias para que se reconheçam os seus trabalhadores quando incorporados. Não se confunde um caboclo da falange de Urubatan com outro da de Arariboia ou de qualquer legião.
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Muita vez, uma questiúncula mínima produz uma grande desgraça… Uma mulatinha que era médium da magia negra, empregando-se em casa de gente opulenta, foi repreendida com severidade por ter reincidido na falta de abandonar o serviço para ir à esquina conversar com o namorado. Queixou-se ao dirigente de seu antro de magia, exagerando, sem dúvida, os agravos, ou supostos agravos recebidos, e arranjou, contra os seus patrões, um“despacho” de efeitos sinistros. Em poucos meses, marido e mulher estavam desentendidos—um, com os negócios em descalabro; a outra, atacada de moléstia asquerosa da pele, que ninguém definia nem curava. Vencido pelo sofrimento, sem esperança, o casal, aconselhado pela experiência de um amigo, foi a um centro da Linha Branca de Umbanda, onde, como sempre acontece, o guia, em meia hora, o esclareceu sobre a origem de seus males, dizendo quem e onde fez o“despacho”, quem e por que mandou fazê-lo. E, por causa desse rápido namoro de esquina, uma família gemeu na miséria, e a Linha Branca de Umbanda fez, no espaço, um de seus maiores esforços. Propiciaram-se as entidades causadoras de tantos danos com um“despacho” igual ao que as lançou ao malefício, e, como o presente não surtisse resultado, por não ter sido aceito, os trabalhadores espirituais da Linha de Santo agiram junto aos seus antigos companheiros de Encruzilhada para alcançar o abandono pacífico dos perseguidos, mas foram informados de que não se perdoava o agravo a médiuns da Linha Negra. Elementos da falange de Oxóssi teceram as redes de captura, e os secundou, com o ímpeto costumeiro, a falange guerreira de Ogum, mas a resistência adversa, oposta por blocos fortíssimos, de espíritos adestrados nas lutas fluídicas, obrigou a Linha Branca a recursos extremos, trabalhando fora da cidade, à margem de um rio. Com a pólvora, sacudiu-se o ar, produzindo-se formidáveis deslocamentos de fluidos; apelou-se depois para os meios magnéticos, e, por fim, as descargas elétricas fagulharam na limpidez puríssima da tarde. Os trabalhadores de Iemanjá, com a água volatilizada do oceano, auxiliados pelos de Iansã, lavaram os resíduos dos malefícios desfeitos e, enquanto os servos de Xangô encaminhavam os rebeldes submetidos, o casal se restaurava na saúde e na fortuna.
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XX. Os protetores da Linha Branca de Umbanda

Os protetores da Linha Branca de Umbanda e Demanda invariavelmente são, ou dizem que são, caboclos ou pretos. Entre os caboclos, numerosos foram europeus em encarnações anteriores, e a sua reencarnação no seio dos silvícolas não representa um retrocesso, mas o início, pela identificação com o ambiente, da missão que, como espíritos, depois de aprendizado no espaço, teriam de desempenhar na Terra. Outros pertenceram, na última existência terrena, a povos brancos, do Ocidente, ou amarelos, da Ásia, e nunca passaram pelas nossas tribos. Os restantes, porém, com o círculo de sua evolução reduzido, até o presente, à zona psíquica do Brasil, têm encarnado e reencarnado, com alternativas, em nossas cidades ou matas, estando quase todos no espaço há mais de meio século. O mesmo quanto aos negros. Esses protetores se graduam em uma escala que ascende dos mais atrasados, porém cheios de bondade, aos radiantes espíritos superiores. O protetor, na Linha Branca, é sempre humilde e, com a sua língua atravessada, ou incorreta, causa uma impressão penosa de ignorância, mas frequentemente, pelos deveres de sua missão, surpreende os seus consulentes, revelando conhecimentos muito elevados.
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Exemplo: uma ocasião, em uma pequena reunião de cinco pessoas, um protetor caboclo descarregava os maus fluidos de uma senhora, enquanto, também incorporado, um preto-velho, Pai Antônio, fumava um cachimbo, observando a descarga.—Cuidado, caboclo—avisou o preto.—O coração dessa filha não está batendo de acordo com o pulso.—Como é que o Pai Antônio viu isso? Deixe verificar—pediu um médico presente à sessão. E, depois da verificação, confirmou o aviso do preto, que o surpreendeu de novo, emitindo um termo técnico da medicina e explicando que o fenômeno não provinha, como acreditava o clínico, de causas fisiológicas, porém de ação fluídica, tanto que, terminada a descarga, se restabelecia a circulação normal no organismo da dama. E assim aconteceu. O doutor, então, quis conversar sobre a sua ciência com o espírito humilde do preto e, antes de meia hora, confessava, com um sorriso e sem despeito, que o negro abordara assuntos que ele ainda não tivera oportunidade de versar, e estranhava:—Pai Antônio não pode ser o espírito de um preto da África, e não se compreende que baixe para fumar cachimbo e falar língua inferior ao cassange.[ 12]—Eu sou preto, meu filho.—Não, Pai Antônio. O senhor sabe mais medicina do que eu. Por que fala desse modo? Há de ser por alguma razão. O preto-velho explicou:—Eu não baixo em roda de doutores. Doutor aqui só há um, que és tu, e nem sempre vens cá. Depois, meu filho, se eu começo a falar língua de branco, posso ficar tão pretensioso como tu, que dizes saber menos medicina do que eu—disse, em uma linguagem arrevesada, que traduzimos.
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Sobre quando eu não entendo as entidades falando principalmente preto Velho
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Salvo em caso de necessidade absoluta, os protetores da Linha Branca de Umbanda incorporam sempre nos mesmos médiuns. As razões são simples e transparentes: habituaram-se a mover aqueles corpos, conhecem todos os recursos daqueles cérebros e, pela constância dos serviços, mantêm os seus fluidos harmonizados com os dos aparelhos, o que lhes facilita a incorporação, aliás sempre complexa e em geral custosa—quanto mais elevado é o espírito, tanto mais difícil é a sua incorporação.
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Sobre incorporar no mesmo corpo
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XXI. Os orixás

Cada uma das sete linhas que constituem a Linha Branca de Umbanda e Demanda tem 21 orixás. O orixá é uma entidade de hierarquia superior e representa, em missões especiais, de prazo variável, o alto chefe de sua linha. É, pelos seus encargos, comparável a um general, ora incumbido da inspeção das falanges, ora encarregado de auxiliar a atividade de centros necessitados de amparo, e, nesta hipótese, fica subordinado ao guia geral do agrupamento a que pertencem tais centros.
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Os orixás não baixam sempre, sendo poucos os núcleos espíritas que os conhecem. São espíritos dotados de faculdades e poderes que seriam terríficos, se não fossem usados exclusivamente em benefício do homem. Em oito anos de trabalhos e pesquisas, só tive ocasião de ver dois orixás, um de Oxóssi, o outro de Ogum, o Orixá Malet.[ 13] O Orixá Malet, de Ogum, baixou e permanece em nosso ambiente, em missão junto às tendas criadas e dirigidas pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas. Trouxe do espaço dois auxiliares, que haviam sido malaios na última encarnação, e dispõe, dentre os elementos do Caboclos das Sete Encruzilhadas, de todas as falanges de Demanda, de cinco falanges selecionadas do Povo da Costa, semelhantes às tropas de choque dos exércitos de terra, além de arqueiros de Oxóssi, inclusive núcleos da falange fulgurante de Ubirajara. Entende esse“capitão de Demanda” que as pessoas de responsabilidade nos serviços da Linha necessitam, a quando e quando, de provas singulares que lhes revigorem a fé e reacendam a confiança nos guias, e muitas vezes lhes dá, no decorrer dos trabalhos de sua direção.
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XXII. Os guias superiores da Linha Branca de Umbanda

Os centros espíritas são instituições da Terra com reflexo no espaço, ou criações do espaço com reflexo na Terra.
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Muito interessante
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Um grupo de pessoas resolve fundar um centro espírita, localiza-o e começa a reunir-se em sessões. Os guias do espaço mandam-lhes, para auxiliá-las e dirigi-las, entidades espirituais de inteligência e saber superiores ao agrupamento, porém afins com os seus componentes. Esses enviados dominam, em geral, o novo centro, mas não o desviam dos objetivos humanos determinantes de sua fundação.
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Tanto os grupos de origem terrena como os originários do espaço ficam, em linhas paralelas, submetidos à direção de guias superiores, que se encarregam de ordená-los em quadros divididos entre eles. Esses guias são os chamados espíritos de luz, que já não se incluem, por sua condição, na atmosfera de nosso planeta, porém, deslocados para a Terra em missão tanto mais penosa quanto mais elevada é a natureza espiritual do missionário. Desses missionários, alguns jamais têm a necessidade de recorrer a um médium e exercem a sua autoridade por meio de espíritos que também muitas vezes não incorporam e transmitem ordens e instruções às entidades em contato direto com os centros e grupos humanos. Há, porém, espíritos de luz que, pelas exigências de sua missão, baixam aos recintos de nossas reuniões, se incorporam nos médiuns e dirigem efetiva e até materialmente os nossos trabalhos.
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XXIII. O Caboclo das Sete Encruzilhadas

O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum e, sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando um coração, de baixo para cima—a flecha significa direção; o coração, sentimento; e o conjunto, orientação dos sentimentos para o alto, para Deus. Estava esse espírito no espaço, no ponto de interseção de sete caminhos, chorando sem saber que rumo tomar, quando lhe apareceu, na sua inefável doçura, Jesus, e, mostrando-lhe, em uma região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão humana, indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário do consolo e da redenção. Em lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade, e para se colocar ao nível dos trabalhadores mais humildes, o mensageiro do Cristo tirou o seu nome do número dos caminhos que o desorientavam e ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Há 23 anos, baixando a uma casa pobre de um bairro paupérrimo, iniciou a sua cruzada, vencendo, na ordem material, obstáculos que se renovam quando vencidos e derrubados, dos quais o maior é a qualidade das pedras com que deve construir o novo templo. Entre a humildade e a doçura extremas, a sua piedade se derrama sobre quantos o procuram, e não poucas vezes, escorrendo pela face do médium, as suas lágrimas expressam a sua tristeza diante dessas provas inevitáveis de que as criaturas não podem fugir. A sua sabedoria se avizinha de onisciência. O seu profundíssimo conhecimento da Bíblia e das obras dos doutores da Igreja autoriza a suposição de que ele, em alguma encarnação, tenha sido sacerdote, porém a medicina não lhe é mais estranha do que a teologia.
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Também, para fazer os seus discípulos compreenderem o mecanismo—se assim posso expressar-me—dos sentimentos, explicou a teoria das vibrações e a dos fluidos e, em uma ascensão gradativa, na mais singela das linguagens, ensinou a homens de cultura desigual as transcendentes leis astronômicas. De outra feita, respondendo à consulta de um espírita que é capitalista em São Paulo e representa interesses europeus, produziu um estudo admirável da situação financeira criada para a França pela quebra do padrão-ouro na Inglaterra.
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Pera, que?
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A sua paciência de mestre é, como a sua tolerância de chefe, ilimitada. Leva anos a repetir, em todos os tons, através de parábolas, por meio de narrativas, o mesmo conselho, a mesma lição, até que o discípulo, depois de tê-la compreendido, comece a praticá-la.
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A primeira vez em que os videntes o vislumbraram, no início de sua missão, o Caboclo das Sete Encruzilhadas se apresentou como um homem de meia-idade, a pele brônzea, vestindo uma túnica branca atravessada por uma faixa onde brilhava, em letras de luz, a palavra“Caritas”. Depois, e por muito tempo, só se mostrava como caboclo, tanga de plumas e mais atributos dos pajés silvícolas. Passou, mais tarde, a ser visível na alvura de sua túnica primitiva, mas há anos acreditamos que só em algumas circunstâncias se reveste de forma corpórea, pois os videntes não o veem e, quando a nossa sensibilidade e os outros guias assinalam a sua presença, fulge no ar uma vibração azul e uma claridade dessa cor paira no ambiente.
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XXIV. As tendas do Caboclo das Sete Encruzilhadas

O Caboclo das Sete Encruzilhadas fundou e dirige quatro tendas: de Nossa Senhora da Piedade, a matriz, em Neves,[ 15] subúrbio de Niterói encravado no município de São Gonçalo, e as de Nossa Senhora da Conceição, São Pedro e Nossa Senhora da Guia, na capital federal, além de outras no interior do estado do Rio.
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O processo de fundação dessas tendas foi o seguinte: o Caboclo das Sete Encruzilhadas, que é vulgarmente denominado o“Chefe”, quer pelos seus auxiliares da Terra, quer pelos do espaço, escolheu, para seu médium, o filho de um espírita e, por intermédio dos dois, agremiou os elementos necessários à constituição da Tenda de Nossa Senhora da Piedade. Dez ou doze anos depois, com um contingente dessa tenda, incumbiu a Sra. Gabriela Dionysio Soares de fundar, com o Caboclo Sapoéba, a de Nossa Senhora da Conceição e, quando a nova instituição começou a funcionar normalmente, encarregou o dr. José Meirelles, antigo agente da municipalidade carioca e deputado pelo Distrito Federal, e os espíritos Pai Francisco e Pai Jobá, com o auxílio das duas existentes, da criação da Tenda de São Pedro.[ 16] Mais tarde, ainda o dr. José Meirelles e o Caboclo Jaguaribe receberam a incumbência de organizar, com os egressos da tenda do pescador, a de Nossa Senhora da Guia. Cada uma dessas tendas constitui uma sociedade civil, cabendo a sua responsabilidade legal e espiritual ao respectivo presidente, que é nomeado pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, independente de indicação ou sanção humana, e por ele transferido, suspenso ou demitido livremente, bem como os médiuns, que o“Chefe” designa e pode, se o entender, afastar de suas tendas.
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Para o serviço de suas tendas, o Caboclo das Sete Encruzilhadas tem às suas ordens orixás e falanges de todas as linhas, incluída, na de Ogum, a falange marítima do Oriente. E bastam essas anotações para que se compreenda o que é uma organização da Linha Branca de Umbanda e Demanda, concebida no espaço e executada na Terra.
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XXV. A Tenda de Nossa Senhora da Piedade

Atacada de moléstia fatal, a filha de um comerciante de Niterói agonizava sofrendo, e, como a ciência humana se declarasse impotente para socorrê-la, seu pai, em desespero delirante, em uma tentativa extrema, suplicou auxílio à modesta Tenda de Neves. Responderam-lhe que só à noite, na sessão, o guia poderia tomar conhecimento do caso. Regressando ao lar, o desconsolado pai encontrou a filha morta e, depois de fazer constatar o óbito pelo médico, mandou tratar do enterro. No entanto, à noite, na Tenda de Nossa Senhora da Piedade, aberta a sessão, o Caboclo das Sete Encruzilhadas, manifestando-se, disse aos seus auxiliares da Terra, ainda desconhecedores do desenlace da doença, que se concentrassem, sem quebra da corrente, e o esperassem, pois ia para o espaço, com suas falanges, socorrer a enferma que lhes pedira socorro. Duas horas depois voltou, achando aqueles companheiros exaustos do longo esforço mental. Explicou-lhes, então, na pureza de sua realidade, a situação e mandou-os que fossem, em nome de Jesus, retirar a morta da mesa mortuária e comunicar-lhe que a misericórdia de Deus, para atestar os benefícios do Espiritismo, lhe permitia viver, enquanto não negasse o favor de sua ressurreição. Confiantes em seu chefe, os humildes trabalhadores da Tenda da Piedade cumpriram as ordens recebidas, e a moça não só ficou viva, como curada. O médico, que lhe tratou da moléstia e que lhe constatou o óbito, observou-a por algum tempo, até desistir de penetrar o mistério de seu caso, classificando-o na ordem sobrenatural dos milagres. Meses depois, à mesa do almoço, conversando, a ressurreta contestou com firmeza, negando-a, a ação espiritual que a restituiu à vida material, porém, nessa ocasião, adoeceu de uma indigestão, falecendo em menos de 24 horas. Uma associação de grande autoridade no Espiritismo, ao ter conhecimento desses fatos, resolveu apurá-los com severidade, para desmenti-los ou confirmá-los sem sombra de dúvida, e, em um inquérito rigoroso, com auxílio das autoridades do estado do Rio de Janeiro, estabeleceu a plena veracidade deles, publicando no órgão de Federação Espírita a sua documentação.
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Qual a relação da consciência do corpo material com o espírito dessa garota? Por que ela negaria essa experiência espiritual? Como fica sua consciência pós morte? Teria seu espírito vergonha? Seu espírito sabia disso?
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XXVI. A Tenda de Nossa Senhora da Conceição

Perguntaram ao presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição:—Acreditas em Nossa Senhora da Conceição? Para responder, ele interrogou:—O amigo acredita na Virgem Maria, Mãe de Jesus?—Acredito—afirmou o ironista.—Pois Nossa Senhora da Conceição é a Virgem, Mãe de Jesus. Se a Tenda corresponde à sua finalidade, que importa o seu nome? Virgem Maria, ou Nossa Senhora da Conceição… As prevenções contra a Igreja determinam investidas bravias contra o passado e a mutilação de grandes nomes históricos, reduzindo teólogos da estatura de Santo Agostinho e mártires do porte de São Sebastião à vulgaridade anônima de Agostinho e Sebastião.
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Ofuscam-se, desse modo, na evocação dessas gloriosas figuras, os seus máximos predicados, os predicados que o Catolicismo exalçou e os centros espíritas reconhecem, transformando esses iluminados em seus padroeiros e dirigentes espirituais. A essa ríspida intolerância, prefiro o sábio exemplo de Allan Kardec chamando São Luiz ao espírito que mais o auxiliou na codificação do Espiritismo. Se os magnos luzeiros do Espiritismo científico e os kardecistas podem invocar Jesus como o Redentor, o médium de Deus, o Salvador, e Nosso Senhor Jesus Cristo, por que não poderemos nós, os humildes, invocar a Virgem Maria como Rainha do Céu, ou Nossa Senhora da Conceição? Quer a chamemos, como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, Mãe das Mães; ou, como na Federação Espírita, Nossa Mãe Amantíssima, Virgem sem Pecado, Maria Puríssima; ou, como os católicos, Nossa Senhora; ou, como os filhos de Umbanda, Mãe Oxum e Iemanjá—Maria Imaculada é sempre a imácula Maria, e pela diversidade dessas invocações não deixa de ouvir o clamor e a prece dos crentes. Nossa Senhora da Conceição é uma variante invocativa do nome de Maria, mas, na Linha Branca de Umbanda, conserva o sentido místico, ligando a Terra ao espaço.
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O chefe do terreiro dessa tenda—presidente espiritual—é o Caboclo Corta-Vento, da linha de Oxalá. Seu substituto imediato é o Caboclo Acaíba, da linha de Oxóssi, e eventuais, Iara, da linha de Ogum; Timbiri, da falange do Oriente; e o Caboclo da Lua, da linha de Xangô. Pelo dever de assumir a responsabilidade social de minha investidura, acrescento que sou o presidente da Tenda de Nossa Senhora da Conceição ou, mais modernamente, o delegado humano incumbido, pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, de coordenar a ordem material necessária à execução dos trabalhos espirituais.
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XXVII. A Tenda de Nossa Senhora da Guia

Além da sessão pública, realiza, também semanalmente, as duas sessões de experiências, para a escolha e desenvolvimento de médiuns, e outros estudos, bem como as extraordinárias, ou especiais, impostas pelas circunstâncias, quando se tornam precisas, e as de descarga, em defesa de seus componentes. Trabalham em seu terreiro, como chefe-presidente espiritual, o Caboclo Jaguaribe; como seu imediato, o Caboclo Acaíba, e como substitutos eventuais, pela ordem de antiguidade na tenda, Garnazan, o Caboclo Sete Cores, e mais, Gira-Mato e Bagi, todos pertencentes às grandes falanges da linha de Oxóssi. Possuem esses trabalhadores, ainda, tantos auxiliares quantos são os médiuns desenvolvidos.
Highlight(yellow) page: 133 location: 1178

Essa é a mais nova das tendas do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a sua última criação, e o seu advento ainda se liga ao nome do dr. José Meirelles, já desencarnado, que foi, na Terra, o obreiro infatigável ao serviço daquele grande missionário.
Highlight(yellow) page: 133 location: 1186

O caso da Tenda de Nossa Senhora da Conceição: Como o jornalista Leal de Souza elucida o caso

—Devo salientar a cortesia dos soldados da Polícia Militar, que acompanhavam o comissário Fernandes, e o cavalheirismo do escrivão e de outros funcionários, que reconheceram instantaneamente o equívoco de que fomos vítimas, tanto que o delegado distrital, tendo conhecimento do caso, mandou soltar-nos e restituir-nos a Tenda, cujo funcionamento legal foi atestado pela autoridade respectiva.
Highlight(yellow) page: 137 location: 1211

—Se alguma das pessoas que, nessa noite, agiram contra nós sofrer algo, não será por vontade nossa, nem por ação dos nossos guias. Os meus companheiros mantiveram, nesse transe, uma conduta retilínea, lembrando-se de que, antes de nós, muitos sofreram, e mais cruelmente, pela nossa doutrina. Os nossos confrades da Polícia Civil e da Militar, isto é, os nossos irmãos dessas corporações, é que ficaram aflitos com o que nos acontecia e desejaram mostrar aos espíritos que não tinham responsabilidade no acontecido. Talvez algum deles se excedesse.
Highlight(yellow) page: 137 location: 1215

Leal de Souza e Irineu Marinho—Os vossos confrades de O Globo, noticiando amplamente o incidente, sem nenhuma consideração às senhoras cujos nomes publicaram, ontem, escandalosamente, disseram que as autoridades encontraram, na Tenda de Nossa Senhora da Conceição, gente em trajes paradisíacos ou estado de nudez. É mentira, e já está apurado que essa informação e outras não foram prestadas por nenhuma autoridade policial, mas o diretor de O Globo terá a oportunidade de comprovar em juízo a sua acusação.“Lamento, não por mim, mas pelo coração que ela desnuda, essa atitude de O Globo. Eu fui encaminhado para o Espiritismo por seu fundador, sr. Irineu Marinho, então diretor de A Noite. No dia em que lhe apresentei as minhas conclusões favoráveis ao Espiritismo, o sr. Irineu Marinho ficou tão satisfeito que mandou reservá-las para um livro, em cujo êxito confiava, concedendo-me, ainda, uma gratificação de três contos de réis. Depois, quando ordenou a edição do livro No mundo dos espíritos, mandou, no seu desejo de estimular-me, que me adiantassem dois contos de réis.”
Highlight(yellow) page: 140 location: 1242

Dentro de 99 dias, o castigo de Deus—Amo a Deus sobre todas as coisas. Conheço o infinito de Sua misericórdia e a infalibilidade de Sua justiça. Para essa justiça apelo. Hoje, sou apenas um colaborador do Diário de Notícias, e o sr. Roberto Marinho é o orgulhoso diretor de O Globo. Que Deus nos julgue nestas circunstâncias e que o povo possa conhecer esse julgamento pela minha situação e pela do meu acusador, 99 dias depois de publicada a agressão contra as filhas da Tenda de Nossa Senhora da Conceição.
Highlight(yellow) page: 141 location: 1252

Que fim será deu isso? Existe repercussão na mídia ou entre umbandistas sobre isso?
Note page: 141 location: 1257

XXIX. Os que desencarnam na Linha Branca de Umbanda

Certas pessoas cometeram faltas que os seus serviços ao próximo, por intermédio da Linha Branca de Umbanda, não compensaram suficientemente. Devem, por isso, sofrer no espaço. Nessa hipótese, os protetores da tenda a que eles pertenceram na Terra conseguem, para resgate dessas culpas, que tais espíritos, em vez de padecerem errando no plano espiritual mais próximo do da Terra, se purifiquem em missões ásperas, obscuramente, laborando sob as ordens de outros.
Highlight(yellow) page: 151 location: 1323

Quais sao esses casos? Quem decide isso? Como pode alguém saber que tá fazendo o suficiente?
Note page: 151 location: 1326

XXX. A Linha de Santo

Em artigos anteriores, mostramos que a Linha de Santo, também chamada Linha das Almas, a sétima das constitutivas da Linha Branca de Umbanda e Demanda, se insinua e dissemina pelas outras seis, sem quebrar a sua unidade. É formada, escrevemos, de“pais de mesa” e os seus componentes espirituais, caboclos ou negros, são egressos da Linha Negra e procuram alcançar amigavelmente de seus antigos companheiros a suspensão de hostilidades contra os filhos e protegidos da Linha Branca. A missão da Linha de Santo, tão desprezada quanto ridicularizada até nos meios cultos do Espiritismo, é verdadeiramente apostolar. Os espíritos que a constituem, mantendo-se em contato com a banda negra, de onde provieram, não só resolvem pacificamente as demandas, como convertem, com hábil esforço, os trabalhadores trevosos. Esse esforço se desenvolve com tenacidade em uma gradação ascendente. Primeiro, os conversores lisonjeiam os espíritos adestrados nos malefícios, gabam-lhes as qualidades, exalçam-lhe a potência fluídica, louvam a mestria de seus trabalhos contra o próximo, e assim lhes conquistam a confiança e a estima. Na segunda fase do apostolado, começam a mostrar aos malfeitores o êxito que alcançariam na Linha Branca com a excelência de seus predicados. Aproveitando para o bem um atributo nocivo, como a vaidade, os obreiros da Linha de Santo passam a pedir aos escolhidos para a conversão pequenos favores consistentes em atos de auxílio e benefício a esta ou àquela pessoa e, realizado esse obséquio, levam-nos a gozar, como uma emoção nova, a alegria serena e agradecida do beneficiado. Convidam-nos, mais tarde, para assistir aos trabalhos da Linha Branca, mostrando-lhes o prazer com que o efetuam, em cordialidade harmoniosa, sem sobressaltos, os operários ou guerreiros do espaço, em comunhão com homens igualmente satisfeitos, laborando com a consciência em paz. Fazem-nos depois participar desse labor, dando-lhes, na obra comum, uma tarefa à altura de suas possibilidades, para que se estimulem e entusiasmem com o seu resultado. E quanto mais o espírito transviado intensifica o seu convívio com os da Linha de Santo, tanto mais se relaciona com os trabalhadores do amor e da paz, e, para não se colocar em esfera inferior àquela em que os vê, começa a imitar-lhes os exemplos, elevando-se, até abandonar de todo a atividade maléfica.
Highlight(yellow) page: 156 location: 1386

Parece algo do passado, e que ficou lá. Será que esse texto ainda faz sentido nos dias de hoje?
Note page: 157 location: 1405

XXXII. O auxílio dos espíritos na vida material

Certos presidentes de sessões e muitos espíritos, com rigorismo impiedoso, respondem que o Espiritismo não tem por fim arranjar ou concertar a vida, e seguidamente, nos trabalhos, os guias assinalam, aborrecendo-se, que os pensamentos dos ambiciosos ou dos premidos por necessidades materiais perturbam e até viciam o ambiente. Mas, em geral, os guias, mesmo quando não o confessam, ajudam materialmente a quem lhes pede socorro dessa natureza em horas de amargura.
Highlight(yellow) page: 163 location: 1445

Eu, na minha insignificância, pessoalmente considero legítimos tais apelos. Somos criaturas materiais, devendo fazer a nossa evolução espiritual por meio de óbices materiais, em um mundo material, e os espíritos incumbidos de nossa proteção realmente pouco a exerceriam, se não nos ajudassem a remover e dominar esses empecilhos de ordem material.
Highlight(yellow) page: 163 location: 1449

Perguntou o sr. Allan Kardec ao seu guia se não o auxiliava na vida material. Contestou-lhe o iluminado que não ajudá-lo seria não amá-lo, acrescentando que o fazia sem que ele o percebesse, para não lhe tirar o merecimento da vitória na luta contra a adversidade. Se assim era com o sr. Allan Kardec, assim deve ser com as outras criaturas, e, como estas não possuem, geralmente, o adiantamento do codificador do Espiritismo, são mais diretos e veementes os seus apelos e menos discretos os favores com que as auxiliam os espíritos.
Highlight(yellow) page: 164 location: 1451

Eu queria poder ter os olhos mais abertos pra enxergar as ajudas materiais e oportunidades que Exu me traz. Temo que eu não enxergue e perca muito.
Note page: 164 location: 1456

O fato positivo é que os espíritos ajudam, quando podem, os homens a vencer as cruezas da vida e, quando estas representam a fatalidade inevitável de um destino, isto é, são uma prova, buscam suavizá-la carinhosamente, amparando, com o escudo da fé, a quem as sofre.
Highlight(yellow) page: 164 location: 1456

Senhores. Com estranheza, li na Vanguarda, de 17 do corrente, uma publicação do comandante João Torres declarando, em vosso nome, que a Tenda de Nossa Senhora da Conceição, de que sou presidente, não pertence ao vosso Espiritismo cristão kardecista, assim denominado, sem dúvida, para não ser confundido com o simples Espiritismo kardecista, que certamente não é cristão. Não adivinho a necessidade, a causa, o alcance de semelhante publicação. Se eu tivesse escrito, dito, ou insinuado que a minha Tenda era filiada à Liga Espírita do Brasil, de que fui um dos fundadores, seria natural que me desmentísseis, mas não tendo eu, nem ninguém, feito tal insinuação, a atitude do comandante Torres, e a vossa, assume um aspecto de exibicionismo agressivo e provocador.
Highlight(yellow) page: 164 location: 1460

XXXIII. O Kardecismo e a Linha Branca de Umbanda

A Linha Branca de Umbanda e Demanda está perfeitamente enquadrada na doutrina de Allan Kardec, e, nos livros do grande codificador, nada se encontra suscetível de condená-la.
Highlight(yellow) page: 169 location: 1510

Allan Kardec, à página 219 do Livro dos espíritos[ 21] escreve: 519. As aglomerações de indivíduos, como as sociedades, as cidades, as nações, têm Espíritos protetores especiais? Têm, pela razão de que esses agregados são individualidades coletivas que, caminhando para um objetivo comum, precisam de uma direção superior. 520. Os espíritos protetores das coletividades são de natureza mais elevada do que os que se ligam aos indivíduos? Tudo é relativo ao grau de adiantamento, quer se trate de coletividades, quer de indivíduos. E quanto às afinidades, na mesma página: Os Espíritos preferem estar no meio dos que se lhes assemelham. Acham-se aí mais à vontade e mais certos de serem ouvidos. Por virtude de suas tendências, é que o homem atrai os espíritos, e isso quer esteja só, quer faça parte de um todo coletivo, como uma sociedade, uma cidade, ou um povo. Portanto, as sociedades, as cidades e os povos são, de acordo com as paixões e o caráter neles predominantes, assistidos por Espíritos mais ou menos elevados.
Highlight(yellow) page: 169 location: 1515

Os protetores da Linha Branca de Umbanda se apresentam com o nome de caboclos e pretos, porém, frequentemente, não foram nem caboclos nem pretos.
Highlight(yellow) page: 170 location: 1524

Entre os protetores da Linha Branca, alguns não são espíritos superiores, e os há também atrasados, porém bons, quando o grau de cultura dos protegidos não exige a assistência de entidades de grande elevação, conforme o conceito de Allan Kardec, à página 216 do Livro dos espíritos:“Todo homem tem um Espírito que por ele vela, mas as missões são relativas ao fim que visam. Não deis a uma criança, que está aprendendo a ler, um professor de filosofia”. E, em trecho já transcrito, explica“que tudo é relativo ao grau de adiantamento, quer se trate de coletividades, quer de indivíduos”.
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O objetivo da Linha Branca é a prática da caridade, e Allan Kardec, no Evangelho segundo o Espiritismo,[ 22] proclama repetidamente que“fora da caridade não há salvação”.
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Na página 214 do Livro dos espíritos, consta:“A ação dos espíritos que vos querem bem é sempre regulada de maneira que não vos tolha o livre arbítrio”. E, à página 222, o mestre elucida: Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim, é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo, e muito natural o que se executa com o concurso deles. Assim é que, provocando, por exemplo, o encontro de duas pessoas que suporão encontrar-se por acaso; inspirando a alguém a ideia de passar por determinado lugar; chamando-lhe a atenção para certo ponto, se disso resultar o que tenham em vista, eles obram de tal maneira que o homem, crente de que obedece a um impulso próprio, conserva sempre o seu livre-arbítrio.
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Eu que já não acreditava em livre arbítrio antes, pareço ter cada vez menos crença mesmo sendo um dos ensinamentos básicos espirituais
Note page: 173 location: 1558

Assim, os caboclos e pretos da Linha Branca de Umbanda, quando intervêm nos atos da vida material em benefício desta ou daquela pessoa, agem conforme os princípios de Allan Kardec. Na Linha Branca, o castigo dos médiuns e adeptos que erram conscientemente é o abandono em que os deixam os protetores, expondo-os ao domínio de espíritos maus. À página 213 do Livro dos espíritos, Allan Kardec leciona: 496. O Espírito, que abandona o seu protegido, que deixa de lhe fazer bem, pode fazer-lhe mal? Os bons espíritos nunca fazem mal. Deixam que o façam aqueles que lhe tomam o lugar. Costumais então lançar à conta da sorte as desgraças que vos acabrunham, quando só as sofreis por culpa vossa.
Highlight(yellow) page: 173 location: 1558

  1. Será por não poder lutar contra espíritos malévolos que um Espírito protetor deixa que seu protegido se transvie na vida? Não é porque não possa, mas porque não quer.
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A divergência única entre Allan Kardec e a Linha Branca de Umbanda é mais aparente do que real. Allan Kardec não acreditava na magia, e a Linha Branca acredita que a desfaz. Mas a magia tem dois processos: um se baseia na ação fluídica dos espíritos—e esta não é contestada, mas até demonstrada por Allan Kardec; o outro se fundamenta na volatilização da propriedade de certos corpos, e o glorioso mestre, ao que parece, não teve oportunidade ou tempo de estudar esse assunto.
Highlight(yellow) page: 173 location: 1566

Depois dessa observação, transcorreram 42 anos, e muitas das conclusões do mestre têm de ser retificadas, mas a sua insignificante discordância com a Linha Branca de Umbanda desaparece, apagada por estas palavras transcritas do Livro dos espíritos, nas páginas 449 e 450: Que importam algumas dissidências, divergências mais de forma do que de fundo? Notai que os princípios fundamentais são os mesmos por toda a parte e vos hão de unir num pensamento comum: o amor de Deus e a prática do bem.
Highlight(yellow) page: 174 location: 1574

E o amor de Deus e a prática do Bem são a divisa da Linha Branca de Umbanda.
Highlight(yellow) page: 174 location: 1578

XXXV. A Linha Branca, o Catolicismo e as outras religiões

Ensina Allan Kardec, à página 434 do Livro dos espíritos, que a religião se funda na revelação e nos milagres, e acrescenta, na página 440 da mesma obra:“O Espiritismo é forte, porque assenta nas próprias bases da religião”. Sendo, assim, a religião de origem divina, não podemos esperar que a derrubem os nossos ataques, nem devemos considerá-la merecedora de nossas zombarias. Os filhos de Umbanda respeitam e veneram todas as religiões, sobretudo a Igreja Católica, pelas suas afinidades com o nosso povo e ainda pelas entidades que a amparam no espaço.
Highlight(yellow) page: 181 location: 1631

Sou dos que acreditam que o Catolicismo, como todas as igrejas, vai entrar em um período luminoso de reflorescimento, revigorado e rejuvenescido por surpreendentes reformas, para as quais vão cooperar, com o antagonismo de suas diretrizes, as correntes materialistas de nosso tempo e a evidência multiplicada dos fenômenos espíritas.
Highlight(yellow) page: 182 location: 1646

Vish que será que o espírito dele acha disso hoje em dia?
Note page: 182 location: 1649

Ante a Igreja, qualquer que ela seja—católica ou protestante—, como diante do sacerdote, quer pastor, quer padre, é de simpatia e respeito a atitude do filho de Umbanda, e o conselho que aqui poderíamos deixar aos crentes daqueles templos se resume em poucas palavras:—Segue rigorosamente os preceitos de tua religião, e Deus estará contigo.
Highlight(yellow) page: 183 location: 1658

XXXVII. O futuro da Linha Branca de Umbanda

Nessa idade, os falquejadores do grande tronco, como os chama o Caboclo das Sete Encruzilhadas, os humildes presidentes e trabalhadores de tendas, hoje incompreendidos e injuriados, abençoarão, no espaço, libertos da matéria, os sofrimentos e as calúnias que afrontaram na Terra, no cumprimento de uma tarefa muitas vezes superior aos seus méritos e energia. Quando, porém, raiará o esplendor dessa aurora? Esperemo-lo, confiantes. Por mais que tarde, há de vir, e para quem se coloca, na sua ação espiritual no mundo material, sob o ponto de vista espírita, a lentidão das coisas não gera o desânimo, porque o tempo não tem limite e o espírito é imperecível.
Highlight(yellow) page: 191 location: 1731

E pois que estas linhas serão publicadas na manhã que nos recorda o sorriso de Jesus infante, na manjedoura de Belém, seja permitido ao humilde filho de Umbanda enviar saudações e votos de paz no seio de Cristo aos crentes e sacerdotes de todos os templos, com uma súplica fervorosa pelo bem-estar daqueles que se privam do conforto da fé e desconhecem Deus.
Highlight(yellow) page: 192 location: 1747

XLI. Animais atuados

A enorme, a incontável legião de espíritos adestrados na prática do mal e capazes de fazer o bem por motivos de ordem subalterna, e realmente fazendo-o àqueles cujas paixões terrenas servem, são em geral denominados exus.[ 25] Formam essas entidades diversas categorias, subindo em uma escala torva dos que se revelam quase bestiais aos que se requintam com conhecimentos superiores desgraçadamente empregados para fins funestos.
Highlight(yellow) page: 209 location: 1900

Ver a nota sobre egun
Note page: 209 location: 1904

Tais espíritos atuam constantemente sobre certos animais, algumas vezes sem nenhum objetivo definido, outras para transformá-los em instrumento contra as criaturas humanas. O animal de sua preferência para essas atuações parece ser o gato. As pessoas que fazem“despachos” nas encruzilhadas para a multidão de espíritos que delas tira a sua designação coletiva sabem que, com frequência, nessas ocasiões, quando a concentração é eficiente, surge um gato em correria desesperada. Conta-se, mesmo, o caso de um indivíduo que trabalhava com exu e foi ferido na face, a chibata, por um desafeiçoado e que, na presença de um jornalista, que divulgou a ocorrência, pediu vingança ao seu aliado, alcançando a promessa de que na tarde desse dia o agressor ficaria com a face assinalada por uma ferida igual ou pior do que a que fizera. Com efeito, segundo o narrador, quando o homem da chibata, ao entardecer, voltou para o lar, a sua entrada em casa coincidiu com a loucura de um gato, que contra ele arremeteu furioso, fazendo-o, nos acidentes de uma luta imprevista, cair sobre uma folha de zinco, rasgando a face.
Highlight(yellow) page: 209 location: 1906

Sobre gatos
Note page: 210 location: 1914

O grupo que foi à praia saíra de um trabalho contrário a objetivos de exu e fora seguido dessas entidades, que realmente conseguiram lançar contra eles os jumentos. Os protetores, porém, estavam vigilantes. O homem está constantemente cercado de perigos desconhecidos, e o melhor meio de evitá-los é não praticar o mal para não provocar a vingança superior à alçada da justiça, pois, se há quem perdoa e esquece, é grande o número de corações que retribuem o mal com o mal, e o bem com a indiferença. E antes a indiferença do que o mal.
Highlight(yellow) page: 211 location: 1927

XLII. Doutrinação aos presidentes de tendas

—No exercício de vossos encargos de presidentes de tendas, adquiris conhecimentos que são armas confiadas à vossa retidão para a defesa do próximo ou para promover a felicidade de vossos irmãos. Essas armas não podem ser usadas no serviço do ódio, nem as empregareis sob o impulso das paixões, sobretudo quando tiverdes a desventura de ser contaminados por essa insânia. Quem exercita o vosso sacerdócio precisa ter domínio sobre si. E acrescentou:—Vistes o povo de Nazaré. E como o de Nazaré são as outras falanges que, com elas, vos auxiliam. Cuidado, presidentes de tendas, com as coisas que lhes pedis, para que um dia não se tenha a amargura de empregá-las contra vós. Presidentes de tendas, pulso firme, porém coração limpo. E continuou:—Não cuidei da vossa defesa. Essa é a nós que compete, e aquele que injustamente vos ferir, como a vós, médiuns e auxiliares de tendas, à hora da justiça, não será justiçado com a vossa mão.
Highlight(yellow) page: 216 location: 1973

XLIII. A doutrinação do preto-velho

—Tu não tens vergonha de beijar a mão do preto-velho?—Não. O espírito incorporado pediu um cachimbo e, baforando uma fumaça, continuou:—O filho não conhece um italiano que às vezes passa lá pelo teu escritório? Um já meio velho, a roupa muito usada, as botas sem salto. Parece que ele te conhece.—Sim, sei quem é.—Ele já teve dinheiro, não é?—Sim, já teve posição. Foi um homem de fortuna.—E teve negócios contigo, não?—Tivemos negócios, altos negócios. O protetor soprou uma fumaça:—Esses dias ele falou contigo, parece que não gostaste.—Não me lembro.—Filho, tu não enganas o velho. Olha, depois, ele quis falar contigo, tu não paraste na rua.—Pode ser…—Velho compreende, meu filho. Na tua posição não fica bem, não é?—Sim, não fica, meu pai.—É verdade, filho. O que vale é o dinheiro. O italiano perdeu o dinheiro, não importa que seja um bom homem, que tivesse te ajudado, não vale mais nada. Constrangia-se, mudo, o consulente, e o velho prosseguia:—O teu negócio está ruim, filho. Nessa marcha, acabas como o italiano. Ah! filho, qualquer dia, ninguém para mais na rua para falar contigo.—Ó meu pai, me ajude.—Mas, filho, eu estou abaixo do italiano. Ele é branco, eu sou preto; ele ainda tem roupa de cidade; eu ando com roupa de negro cativo.—O meu pai é um espírito.—Ele também. A diferença é que ele tem um corpo, e eu não.—Porém o senhor pode ajudar-me.—E tu podes ajudá-lo, ao coitado do italiano. Pois tu queres que te ajudem e não queres ajudar os outros?—Eu, podendo, ajudarei. Escachimbando em sua meia-língua, o protetor continuava:—Vamos ver, vamos ver. E, com um sorriso:—Olha lá, filho. Cuidado com os pretos. Preto-velho tem um irmão carnado, um preto-velho que anda aí pela cidade. É o seu retrato. É o preto-velho sem tirar nem pôr. Ele é médium e não sabe. Às vezes, eu tomo o corpo dele e ando aí pela cidade. Qualquer dia, passas por mim. Eu te chamo. Quero ver se beijas a mão do preto-velho no meio da rua. Acanhado, mas resoluto, o elegante prometeu:—Beijo, meu pai. Rindo alto, o protetor considerou:—A necessidade é negra. És capaz de beijar a mão de todos os pretos da cidade. Mas no meio da rua, filho. Não te escondas em algum corredor. E diante do embaraço do orgulhoso:—Não te amofines. O preto-velho não se encontrará contigo antes que se endireite o teu negócio. Depois, não faz mal que o encontres e não pares na rua. Não precisarás mais dele.
Highlight(yellow) page: 219 location: 1996

XLIV. Como atuam os espíritos

Quando se empenha em perseguir um indivíduo carnado, um espírito recorre a inúmeros recursos. Para enfermá-lo, ataca-lhe, a golpes fluídicos, determinados órgãos. Considere-se que o corpo humano é um agregado fluídico suscetível de desagregação, como o demonstram experiências de efeitos físicos e de materialização, e ver-se-á que o espírito, se é capaz de produzir essas desagregações para aquelas experiências, também poderá operá-las para malefício. Mesmo que o paciente não seja médium de materialização ou de efeitos físicos, os golpes fluídicos que o atingem, e que são de uma matéria imponderável da sua mesma natureza orgânica, acabam causando-lhe dano. Para facilitar a compreensão, comparemos a ação fluídica ao ar deslocado por ventilador a curta distância, chegando quase imperceptivelmente a uma pessoa e que, ao fim de meia hora, se torna incômodo, produz irritações e defluxos. Há casos, e não os cito para não alongar este escrito, em que o espírito obsessor, dominando a sua vítima, a leva a cometer disparates perigosos, que comprometem, por vezes, a sua reputação, e frequentemente a sua vida. Assim, em meio a uma conversa sobre negócios, inundam-lhe o cérebro de ideias absurdas, que sufocam e abafam os seus pensamentos amadurecidos, brotando-lhes dos lábios em uma torrente de dislates a surpreendê-lo mais tarde, depois de ter surpreendido irremediavelmente, na ocasião, o seu interlocutor.
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Quando a intenção do espírito é apenas prejudicar materialmente a pessoa, criando-lhe embaraços de vida, irrita-a, tornando-a áspera e descortês, e, com frequência, atua sobre aqueles dos quais dependem a sua situação ou o seu negócio, ora afastando-os dos pontos marcados para encontros, ora causando-lhes uma sensação física de mal-estar que não lhe permite decidir a questão. Ou fá-lo sugerindo-lhe a desconfiança e, ainda, produzindo-lhe confusão mental pela continuidade violenta de sugestões contraditórias postas em conflito, em seu cérebro, com os seus pontos de vista. A ação fluídica dos espíritos determina constantemente ilusões visuais, que na verdade não o são, porque a pessoa de fato viu o que depois acredita ter sido um engano, e com elas e outros meios consegue influir na ação dos homens. Os que tiverem tempo e gosto para ler Allan Kardec poderão verificar a multiplicidade de meios de que dispõem os espíritos para a sua intervenção na vida material.
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Sobre mais motivos e complexidade para eu não considerar o livre arbitrio uma verdade absoluta
Note page: 224 location: 2057

XLV. A repressão policial

Acreditamos que, reprimindo a exploração, a polícia, em pouco tempo, reduzirá a um mínimo insignificante os malfeitores do Espiritismo, porque ninguém trabalha para o mal sem visar lucros materiais. Só o bem pode inspirar dedicação e sacrifícios à claridade da fé.
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XLVI. Espíritos perturbadores em ação no meio social

Em todos os meios em que se observa a influência do Espiritismo, nota-se, quase generalizada, a tendência para atribuir à atuação de espíritos atrasados ou maus os erros, as faltas, os delitos praticados pelos homens, e muitos se desculpam com a ação imponderável dos elementos invisíveis para perseverar em atos dignos de repulsa. Não se pode negar, e nós, nestes artigos, já largamente reconhecemos a constante intervenção dos espíritos nas ocorrências humanas, porém seria absurda injustiça lançar-lhes a responsabilidade de tudo quanto se faz na Terra. Existem camadas em nosso planeta, muitíssimos milhares de espíritos que, no espaço, agiriam como obsessores e, no meio social, exercem a atividade nefasta de perturbadores, espalhando a dúvida, a desconfiança e a discórdia entre os indivíduos e as classes.
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E é natural que assim procedam tais indivíduos, pois não se movem por amor a princípios, não se agitam para servir o Evangelho, não clamam para defender o Espiritismo, não se preocupam com a elevação moral dos espíritas e de seus centros, porém gritam porque gritam, porque desejam aparecer, porque sentem a necessidade de contrariar alguém, porque gozam com a perturbação do ambiente, porque vivem perturbados, porque são perturbadores. Não é possível abandonar a sociedade ao desvario desses agitados. Cumpre esclarecê-los, mostrando-lhes os danos que causam, e, caso persistam em sua operosidade criminosa, é preciso tratá-los como a obsessores, recordando-lhes os seus erros e reprimindo-os com energia.
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XLVII. A propaganda do Espiritismo

A tolerância da propaganda nos circuitos hostis ou indiferentes ao Espiritismo não deve contrastar com o furor nas lutas e desentendimentos entre os próprios espíritas. Como poderá merecer a atenção benévola dos que a desconhecem uma doutrina que, no seu período de propaganda, a si mesma se condena e anula, demonstrando, pelos conflitos de seus adeptos, não possuir um princípio capaz de harmonizá-los, por meio das modalidades de que se reveste no culto prático? Esse princípio decerto existe, e Santo Agostinho, n’O livro dos espíritos, ensinou-o a Allan Kardec, dizendo-lhe que as divergências dos espíritas não quebram a unidade do Espiritismo e não têm importância real, desde que os divergentes amem a Deus e pratiquem o Bem.
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XLVIX. Conversa à margem destes escritos

Esperais que eu fique, um dia, mais integrado na doutrina espírita. É esse o meu desejo e a minha esperança. Em nove anos, li doze vezes as obras de Allan Kardec e começo a relê-las pela décima terceira, considerando, a cada passo, que o Espiritismo, nesses 62 anos, progrediu a ponto de exigir a retificação de alguns dos ensinos do mestre. Há nove anos, consagro algumas horas de cada um dos meus dias ao estudo, ao trabalho e à meditação espíritas, e subordino aos preceitos dessa doutrina a minha conduta social.
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L. Bandeira de tolerância

Itaipava, 7 de janeiro de 1933.
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Há uns 25 anos atrás, quando entrei pela porta do Espiritismo a admitir o dogma de reencarnação, julguei estultamente que os dias das religiões, principalmente do Catolicismo, estavam contados. Cairiam todas a golpe de Espiritismo. Eu estava e andei muito tempo errado. Cegava-me o orgulho de saber o que ainda o fiel católico não sabe, embora o sinta pela fé. Mas, como fui sempre um investigador sem preconceito, que atacava em sinceridade dentro das regras cavalheirescas de reconhecimento de vitória ao adversário realmente triunfante, pude a pouco e pouco ir polindo as minhas objetivas. Hoje, com a prudência da idade, posso confessar a quantos me honram com a amizade que considero injusto e contraproducente o ataque a qualquer religião, e sobretudo à católica. A crítica negativa não destruirá jamais o dogma católico, antes lhe dará maior polimento e tempera. Debalde livros de prosa ou verso e discursos irreverentes tentaram e tentarão demolir o monumento. Só a verdade positiva, e não o sarcasmo ou a impiedade, conseguirá um dia rasgar o véu providencial que é hoje o dogma, para exibir a essência divina que ele cobre.
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Do amigo, obrigado, Canuto.
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LI. Um parecer sobre o ensino religioso nas escolas públicas

A consulta transmitida pelo dr. Carlos Imbassahy é simples e concisa:“Qual a atitude que a Federação Espírita Brasileira deve tomar diante do decreto que faculta o ensino religioso nas escolas primárias, secundárias e normais?”. A resposta deve ser no mesmo tom de simplicidade e concisão:“A atitude que a FEB deve tomar diante do decreto que faculta o ensino religioso nas escolas primárias, secundárias e normais é a de absoluto silêncio e inteira impassibilidade”.
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  1. Sendo como é uma sociedade brasileira, destinada a orientar as almas que nascem no Brasil ou vêm de outras terras viver sob o nosso cruzeiro, a federação não pode deixar de ser cristã. Se fosse organizada em outro país, em que o credo dominante fosse o Islamismo, o Xintoísmo, o Budismo, naturalmente ela seria maometana, xintoísta ou budista, pois o Espiritismo serve de fundamento a todas as religiões e é o elemento universal e basilar de todos os credos e filosofias espiritualistas.
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  2. Se a nacionalidade brasileira fosse protestante, como a inglesa ou a norte-americana, o papel da federação seria o de desenvolver, no seio do Protestantismo, não a negação da fé nacional, o que seria erro imperdoável, mas a crença na evolução da alma pelas reencarnações, a fim de todos os adeptos da Bíblia alcançarem o entendimento da verdade que o santo livro cultuado pelos protestantes encerra. Sendo, como é, católica a nossa nacionalidade, porque Deus, em Sua sabedoria, quis confiar o nosso país aos católicos, cumpre à federação o grandioso papel de esclarecê-los, não para lhes arrancar a fé, mas para os ajudar a transpor uma etapa e entrar no entendimento da reencarnação.
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  3. Em síntese: a missão social do Espiritismo no Brasil é introduzir no Catolicismo o dogma da reencarnação com o conjunto de doutrina que esse dogma possui e a federação ensina e propaga. Não lhe cumpre entrar em competições religiosas, pois religião não é.
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LII. Tolerar para vencer

  1. Mas no espaço há também desgraçados que vivem sem Deus, sem fé, sem esperança e, conseguintemente, sem caridade, o que vale dizer sem salvação. Tenhamos cuidado com os conselhos que nos sopram aos menos vigilantes! É deles sobretudo que vem o influxo para o combate aos credos religiosos que eles odeiam. São forças inferiores e sombrias do espaço que querem destruir as instituições seculares graças às quais as forças superiores e luminosas puderam manter neste mundo, por meio dos cataclismos sofridos, a fé na imortalidade da alma, na misericórdia de Deus e na esperança de nossa redenção. Os centros espíritas que agirem sob a insinuação daquelas forças estarão cavando a ruína moral e espiritual de seus adeptos, alistando-os nas hostes que combatem a verdade e se destinam ao choro e ranger de dentes.
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O decreto vai beneficiar o Catolicismo. Que importa! Esse credo secularmente estabelecido só desaparecerá pela evolução nos tempos marcados por Deus. Cuidemos antes de respeitar a todos os credos, sem ter nenhum. Parodiemos Jesus:“As raposas têm as suas tocas, as aves do espaço têm seus ninhos, mas o ‘Filho do Homem’ não tem um lugar onde repousar a cabeça.”
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LIV. O ensino religioso nas escolas públicas

Quando, em sua cátedra, o pastor negar os dogmas da Igreja e o princípio da reencarnação, contestá-lo-ão, atacando-o em sua doutrina, o representante do Papa e o discípulo de Allan Kardec. As crianças, que até então certamente não haviam observado que eram de religiões diferentes, passam a acreditar que pertencem a cultos inimigos, e as escolas nacionais, que devem preparar cidadãos irmanados pelo amor e para o serviço da pátria, lançarão à atividade social bandos de adversários separados por antagonismos intransigentes.
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LV. O Espiritismo e a questão social

Os espíritas sabem que a chamada questão social, na angústia de sua crise da atualidade, só existe porque as nações, constituídas de indivíduos cristãos, não se governam pelos princípios do Cristianismo. Os Estados sacrificam as leis eternas de Deus aos rigores de seu egoísmo; os indivíduos, agindo como coletividades, se habituaram a colocar o interesse e o orgulho de seus povos acima dos direitos dos demais países, e as próprias instituições religiosas restringem a universalidade de suas doutrinas em interpretações favoráveis à ambição de cada burgo.
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Em face das ideias em xeque, devemos fazer duas considerações basilares: toda criatura humana tem direito à subsistência e à felicidade; a evolução dos espíritos carnados[ 29] se processa por meio das diferenças de recursos materiais. É necessário, pois, assegurar a cada indivíduo a subsistência, dando-lhe os elementos para que o seu esforço conquiste, nas competições normais do merecimento, o posto e os proventos devidos às suas qualidades, sem que os menos dotados de inteligência e habilidade fiquem reduzidos a seus escravos ou arrastem uma triste existência de necessitados.
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LVI. Harmonia

Os centros espíritas estão separados por pequenas divergências, realmente insignificantes, por serem todas atinentes a métodos práticos, sem lesão de princípios fundamentais, mantendo-se a unidade da doutrina assegurada, segundo o ensino de Santo Agostinho e Allan Kardec, pela máxima“amar a Deus e praticar o Bem”. Entre os que, invocando o nome de Allan Kardec e a doutrina dos espíritos, amam a Deus e praticam o Bem, é necessário restabelecer a harmonia, baseada na compreensão que os mais avançados tenham da marcha morosa dos que não podem acompanhá-los na celeridade de seus passos para a frente, na estrada clara do progresso.
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Em face da atividade de todos os centros e sociedades espíritas, quaisquer que sejam os seus processos, não julguemos o labor de nossos confrades pelas nossas antipatias e preferências, mas, como no-lo manda o Evangelho, julguemos a árvore pelo fruto.
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Posfácio [Diamantino Fernandes Trindade]

O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda é um marco na história da literatura espiritualista brasileira, pois é o primeiro livro a tratar especificamente sobre a Umbanda. Devemos lembrar que quando Leal Souza conduziu este inquérito, em 1932, já conhecia sobejamente o Espiritismo e o, então denominado, Espiritismo de Umbanda. Mesmo assim, em momento algum, ele fez qualquer proselitismo da religião, demonstrando uma ética irrepreensível.
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Leal de Souza foi brilhante como jornalista, redator, escritor e poeta, mas não menos brilhante como médium e dirigente umbandista. Sua perspicácia e conhecimento sobre a Umbanda mostram-se, por exemplo, na elaboração do conceito das Sete Linhas de Umbanda, que serviu de base para muitas outras classificações de autores posteriores.
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Como disse W. W. da Matta e Silva, Leal de Souza foi o primeiro umbandista que enfrentou a crítica mordaz, ostensiva e pública em defesa da Umbanda. Em uma época na qual era quase que uma heresia falar sobre tal assunto, Leal de Souza nunca se curvou aos ataques ferozes da polícia, da imprensa ou da Igreja Católica.
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Explica, de forma magnífica, os aspectos teóricos, os métodos e os rituais praticados nos terreiros, bem como a questão social que envolvia a religião umbandista. Também se torna claro que ele foi o primeiro historiador da Umbanda.
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Parabenizamos os leitores e leitoras desta admirável obra, que, com certeza, nos propicia um novo olhar sobre a Umbanda emergente da década de 1930.
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Legitimação e construção da identidade brasileira: uma perspectiva histórica da obra umbandista de Leal de Souza [Nathália Fernandes]

Os primeiros anos da década de 1930 marcaram o início de profundas transformações nos âmbitos social, político, e econômico brasileiro. No âmbito político, a Revolução de 1930 levou ao poder grupos que se posicionavam contra a hegemonia política da oligarquia cafeeira de São Paulo, tais como a juventude militar, conhecida como“tenentes”, e as oligarquias rurais dissidentes, com destaque para a gaúcha, na qual destaca-se a figura de Getúlio Vargas. Na esfera econômica, as transformações tinham como objetivo tornar o Brasil uma nação avançada inserida, definitivamente, na lógica internacional capitalista.
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Essas transformações também ecoaram no âmbito cultural, sobretudo no das“mentalidades”. Ao longo de toda a década de 1930, alguns intelectuais buscavam compreender a essência do povo brasileiro. Para tanto, refletiam sobre as particularidades do país em relação a outras nações e às singularidades de nossa sociedade. Além disso, também estavam preocupados com a questão da identidade nacional.
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Um país tão diverso em sua composição social e territorial, marcado por profundos regionalismos, precisava de elementos que gerassem um consenso, um ponto em comum entre todos esses indivíduos para que suas diferenças não causassem tensões ou mesmo cisões. Assim, os intelectuais refletiam incansavelmente sobre quais seriam os símbolos e os elementos culturais capazes de construírem nos corações e nas mentes desses indivíduos um sentimento de unidade e pertencimento a uma mesma nação. Importante destacar que as reflexões desses intelectuais também giravam em torno da compreensão e da construção de discursos justificadores para o nosso“atraso” em relação às demais nações, principalmente as europeias.
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Essas reflexões, e suas respectivas conclusões, logo tomaram corpo dentro do próprio Estado e se tornaram fundamentais para a política cultural do Governo Vargas. Dessa forma, ao longo de toda a década de 1930—e parte da década de 1940—, o Estado brasileiro se empenhou na ampla difusão da ideia de que a singularidade do povo brasileiro consistia em sua composição étnica diversa, ou seja, a presença histórica do branco, do negro e do índio em um mesmo corpo social. Dessa maneira, o processo de construção da identidade nacional brasileira, nesse período, é fundamentado nos conceitos de mestiçagem e miscigenação. O encontro dessas três etnias teria como resultado o surgimento de uma rica diversidade de hábitos, costumes, crenças, religiosidades, festividades, entre outros elementos culturais, que formavam a nossa cultura nacional. Dessa forma, o futebol, o samba, o carnaval, a capoeira, o índio e o mestiço foram tomados como elementos fundantes de nossa identidade e de nossa cultura. No entanto, neste contexto, merece destaque o mestiço, que foi reconhecido como a expressão máxima da nossa“brasilidade”.
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Esse discurso, baseado nas“três raças”, torna-se tão forte e conciso que o Brasil vira objeto de estudo para intelectuais estrangeiros interessados em entender a dinâmica das relações étnico-raciais aqui estabelecidas e de nossa diversidade cultural, inclusive no que tange às festividades populares e suas religiosidades. No entanto, é importante ressaltar que mesmo refletindo e assumindo a existência de contribuições culturais significativas advindas do negro e do índio, os intelectuais acabavam hierarquizando-as e apresentando-as como secundárias em relação às contribuições dos brancos, ou seja, aquelas de origem europeia.
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Se, por um lado, temos o esforço do Estado de, com os intelectuais, construir uma identidade nacional fundamentada na presença do branco, do negro e do índio, valorizando o mestiço, por outro, temos uma legislação que não se apresentava tão conciliatória ou integradora quanto o discurso estatal.
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Os artigos 156 e 158 encontram-se intimamente relacionados. Esses artigos criminalizavam qualquer indivíduo que se identificasse capaz de curar ou tratar doenças ou cuidar da saúde de outrem sem possuir diplomação para tal(o artigo 156 criminalizava as parteiras, por exemplo). Assim, configurava-se crime o ato de prescrever ou ministrar ervas, beberagens ou extratos para se tratar qualquer tipo de mal que acometesse o corpo, a mente ou o espírito. O Estado criminalizava, além da medicina ilegal, todos os praticantes da chamada“medicina popular”. No entanto, é fundamental lembrar que, no início do século XX, o país não possuía uma malha bem distribuída e organizada de saúde pública e poucos eram os indivíduos que tinham uma renda que os permitia ter acesso a consultas médicas quando necessário. Sendo assim, a“medicina popular”, em muitos momentos, era o único auxílio que as classes menos abastadas possuíam em situações de doenças—curáveis ou não.
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É importante frisar, também, que as medidas acima citadas beneficiavam diretamente a classe médica, ainda em processo de institucionalização, regulamentação e fortalecimento no Brasil. Ela tornava-se o único caminho legal para o acesso aos cuidados dos males do corpo e de moléstias, passando, assim, a deter o monopólio da cura.
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Já o artigo 157 estabelece como crime:“Praticar o Espiritismo, a magia e seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancias para despertar sentimentos de ódio ou amor, inculcar cura de moléstias curáveis e incuráveis, enfim, para fascinar e subjugar a credulidade publica”. É com este artigo que se torna evidente a perseguição e a repressão do Estado brasileiro à prática de algumas religiões no território nacional até, pelo menos, a década de 1950. A Umbanda, o Candomblé, o Espiritismo de Allan Kardec e todas as outras práticas religiosas de matriz africana—como a quimbanda e as macumbas—, nesse período, eram chamadas de Espiritismo. Logo, esse artigo criminalizava todo o campo religioso espiritualista. As práticas destes cultos eram compreendidas pelo Estado e pelos profissionais da área do Direito como uma prática de magia maléfica e de feitiçaria, ou seja, seriam cultos ao mal. Essas religiões eram qualificadas, pelo Código Penal, como religiões de baixíssimo nível moral, extremamente nocivas ao convívio social. Além disso, também consideravam que elas eram fundamentadas na arte de ludibriar, fascinar e enganar as pessoas.
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Muito interessante
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Parece um pouco desajustada a ideia de que o Governo Vargas—iniciado em 1930—, por meio de um discurso de valorização de todas as práticas culturais nacionais e da miscigenação, pudesse ter uma conduta discriminatória, violenta e autoritária frente algumas religiosidades.
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Leal de Souza, como assinava seus escritos, foi poeta parnasiano, jornalista e redator de periódicos, como o Diário de Notícias e A Noite, crítico literário, dramaturgo e tabelião. Além de importante intelectual das décadas de 1920 e 1930, Leal de Souza foi um dos primeiros dirigentes da Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição, uma das sete casas umbandistas criadas por Zélio Fernandino de Moraes por solicitação do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Ele também publicou duas obras extremamente emblemáticas, principalmente, para o campo religioso da Umbanda: No mundo dos espíritos, de 1925, e O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda, de 1933. Frutos de seu trabalho investigativo como jornalista, ambas consistiam em compilações de seus“inquéritos” publicados nos periódicos anteriormente citados.
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A obra No mundo dos espíritos é uma série de artigos publicados no jornal A Noite que narram suas visitas a centros espíritas da cidade do Rio de Janeiro e de Niterói. O objetivo dessas visitas era registrar detalhes acerca dos trabalhos mediúnicos e dos estudos científicos praticados nesses espaços. Já O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda—aqui republicado—registra os artigos escritos pelo jornalista veiculados no periódico Diário de Notícias. Com essa série, Leal de Souza tinha como objetivo conscientizar a população sobre a Umbanda, falando a respeito de seus principais dogmas e crenças. Esse pioneirismo de Leal de Souza fez com que ele fosse reconhecido—tanto por estudiosos da religião quanto por seus praticantes—como o primeiro autor umbandista.
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Primeiro autor umbandista
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Por intermédio da leitura de O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda, conseguimos visualizar as disputas e os conflitos existentes dentro do campo das religiões chamadas, neste momento, de espíritas, bem como somos transportados para uma das etapas mais importantes da história da Umbanda: sua legitimação.
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Ainda que tivesse recebido certa contribuição do Espiritismo(doutrina de origem europeia fundada por Allan Kardec), do Catolicismo(também europeia), dos cultos africanos e da ritualística indígena brasileira(a única nativa), a Umbanda nasceu a partir do olhar local a cada uma dessas religiosidades, misturando suas experiências de fé em nosso território.
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A Umbanda seria, assim, a expressão máxima de nossa essência e de nossas origens, ou seja, fruto da dinâmica e da composição da própria sociedade brasileira. A Umbanda nascia sincrética,“misturada”, pois nossa sociedade se delineava dessa forma e foi construída sobre esses pilares. Portanto, ela se apresenta como um elemento que compõe nossas raízes culturais e que, como tal, deve ser reconhecida e resguardada pelo Estado, não perseguida.
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a Umbanda aceita em seus trabalhos todos os espíritos, independentemente de suas origens territoriais ou sociais. Dessa forma, a Umbanda inclui em sua ritualística os espíritos de negros escravizados(pretos-velhos) e espíritos de indígenas(caboclos)—considerados como espíritos não evoluídos ou de baixa vibração por outras religiões. Contudo, esses espíritos possuem grande importância dentro do cotidiano das casas e são profundamente respeitados por sua sabedoria e poder magístico.
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Outro elemento relacionado a esse acolhimento oferecido pela Umbanda é a ideia de caridade, que é um de seus pilares mais fortes. A única condição exigida por ela para que espíritos e encarnados participem de seus trabalhos é sua disposição para fazer o bem e praticar a caridade. Essa característica também aproximava a Umbanda das classes populares, que percebiam nessa nova religião uma possibilidade de assistência e amparo nas dificuldades. Por meio da caridade, a Umbanda também se defendia dos preconceitos sofridos e da criminalização de seus praticantes, pois se colocava enquanto prática voltada para o bem do próximo. Assim, ela se firmava como uma religião que aceitava a todos, sem distinção ou discriminação social, fundamentada no amor.
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No artigo que inicia sua obra, por exemplo, são enumerados como objetivos: a conscientização das pessoas sobre o que é Umbanda; a elucidação de algumas de suas características; o estabelecimento de diferenciações e fronteiras com a magia negra e o baixo Espiritismo, bem como a demonstração dos diálogos mantidos com o Catolicismo e com o Espiritismo.
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Possivelmente, o jornalista, como poeta e intelectual, utilizou de sua influência social e política para ter um espaço para a publicação de seus escritos. Como esses artigos objetivavam conscientizar a população sobre a Umbanda e seu trabalho voltado para o bem, contrapunham-se diretamente às notícias veiculadas sobre batidas policias, prisões e apreensões nas casas espíritas. Como essas matérias costumavam apresentar um discurso pejorativo e reforçar, no imaginário coletivo, a associação da Umbanda à magia negra, à feitiçaria e ao demoníaco, gerando certo distanciamento e medo por parte da população, os artigos de Leal de Souza pretendiam desconstruir tais afirmações, apelando, muitas vezes, à racionalidade do leitor e às comprovações científicas.
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seus escritos ampliam nosso entendimento sobre esse conceito, pois definem que os pilares que sustentam a Umbanda são: a prática do bem, a magia benéfica, a caridade e a orientação advinda dos espíritos que chefiam cada uma das casas.
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As orientações e as regras umbandistas não estão no âmbito terreno, mas sim no campo do sagrado, sendo estabelecidas pela espiritualidade que protege e rege cada uma das casas. A relação entre o cotidiano ritualístico de uma casa, seus guias espirituais e seus praticantes nos remete a outra importante questão: a oralidade. Essa característica é uma das pedras fundamentais da Umbanda e, por essa razão, torna-se tão difícil encontrarmos documentos que registrem a rica trajetória desta religião ou, ainda, livros que narrem ou estabeleçam os fundamentos dogmáticos de suas casas. Portanto, a partir de toda essa complexidade, os artigos de Leal de Souza representam a primeira iniciativa para um registro histórico da Umbanda. Uma de suas grandes contribuições foi a de nos permitir documentar uma história que, por ser fundamentalmente oral, muitas vezes não é reconhecida ou respeitada em determinados espaços e que, igualmente, corre o risco de ser esquecida ou silenciada. Seus escritos nos permitem materializar essa história, erigindo uma memória do povo de santo e permitindo a construção de uma identidade umbandista. Além disso, a construção de uma memória da Umbanda também é de grande relevância para uma religião que tem como outro de seus elementos fundamentais a valorização da ancestralidade.
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Oralidade tal qual xamanismo. Seria esse um caminho a eu seguir com a quimbanda?
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Esta obra também se apresenta como uma firme denúncia às batidas policiais promovidas pela Polícia Civil—fundamentadas nos artigos anteriormente citados—às casas de culto, terreiros e tendas espíritas. Dessa forma, ela também se apresenta como uma importante fonte de pesquisa ao documentar a repressão sofrida pela Umbanda e outras religiões de matriz africana no início da República e durante o Estado Novo. Como esse capítulo da história umbandista ainda é contestado e ocultado por alguns estratos sociais, e pelo próprio Estado, os artigos de Leal de Souza são capazes de comprovar essa ação autoritária, repressora e vergonhosa do Estado em relação à Umbanda e seus adeptos.
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Como bem coloca Leal de Souza na introdução de seu trabalho, toda religião apresenta uma concepção de mundo. Tendo isso em vista, pensar na importância da oralidade e da ancestralidade para a cultura popular como elementos que a compõem, nos permite repensar a ideia de povo brasileiro, desconstruindo a lógica e o discurso eurocentristas nos quais esses elementos são rejeitados ou menosprezados. Em um país onde, até os dias atuais, hábitos, corpos e mentalidades permanecem enraizados na colonização cartesiana e opressora europeia, reconhecer a Umbanda como uma religião brasileira é afirmar que nós, brasileiros, construímos a nossa própria concepção de mundo: uma concepção mais ampla, plural, fluída, fraterna, acolhedora, flexível, hábil, matriarcal e afetiva. Nesse aspecto, escrever a história da Umbanda é escrever a história do povo brasileiro a partir de seus próprios movimentos, conflitos, diálogos, dinâmicas, misturas, apropriações, leituras, releituras, lutas, resistências e conflitos.
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O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda: a religião e os “inquéritos” no jornalismo carioca da virada do século XX [Mauricio Ribeiro da Silva]

Tido como o primeiro livro sobre Umbanda, o texto ficou esquecido durante um grande período, sendo, até onde sabemos, redescoberto recentemente a partir de cópias às quais tiveram acesso escritores como Diamantino Fernandes Trindade e Alexandre Cumino, que, na esteira de Ronaldo Linares, buscaram na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade—fundada em 1908 por intermédio de Zélio Fernandino de Moraes—informações sobre a prática da Umbanda em seus primórdios.
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como apontou o sociólogo Renato Ortiz[ 34]—, a Umbanda que Leal de Souza registra é essencialmente uma prática espírita, compreendida a partir dos fundamentos da doutrina, diferenciada na prática litúrgica, porque agrega o conhecimento de espíritos então compreendidos como atrasados por conta de sua condição social quando encarnados e, com eles, realizando rituais típicos de práticas indígenas e africanas(banhos, guias, defumações, dentre outras).
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o trabalho de Leal de Souza constitui um marco de imenso valor doutrinário, histórico e sociológico que nos auxilia a compreender o modo como se deu a dinâmica da emergência da Umbanda em um período no qual o Catolicismo romano ainda figurava absolutamente hegemônico.
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Nessa nova condição, passam os padres a estruturar identidades entre santos e divindades em uma forma inicial de sincretismo que, se por um lado, buscava a conversão, por outro acabou por favorecer em certos aspectos a resistência dos valores simbólicos dos povos sujeitados às condições subalternas da sociedade colonial. Assim, em linhas gerais, aldeamentos e senzalas são fenômenos equivalentes, o que também é constatável na designação da condição do escravizado como negro, igualando os povos subjugados, os quais são designados genericamente a partir do lado atlântico em que foram capturados: negros da terra(indígenas) ou negros da costa(africanos).
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Essa condição, simbolicamente fundada com a tropa de Pedro Álvares Cabral realizando a primeira missa nos arredores de Porto Seguro em 1500, somente é colocada em xeque com a chegada e ascensão do Espiritismo em meados do século XIX. Se indígenas e africanos eram vistos como inferiores sob todos os aspectos(moral, intelectual, religioso etc.) e estavam sujeitos à hegemonia europeia que os tinha em condição subalterna, o Espiritismo, diferentemente, chega a solo brasileiro a partir do intenso intercâmbio cultural estabelecido entre a elite e a Europa, mais especificamente com a França, tida como modelo cultural, que influencia tanto os costumes da corte quanto a reurbanização de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo no final do século XIX e início do XX. Surge, portanto, uma nova condição de embate para o catolicismo: a perspectiva da inferioridade associada a índios e africanos e suas respectivas crenças não era aderente aos espíritas, uma vez que tais indivíduos compunham, em grande medida, a elite intelectual, social e política de origem europeia, sendo estes os primeiros leitores das obras de Kardec. A relevância social dessa elite é notória, uma vez que participava ativamente dos grupos que deram suporte a causas importantes daquele período, como os movimentos abolicionista e republicano.
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Nesse contexto, em lugar da proposição de inferioridade, reforça-se o discurso antagônico pautado no imaginário católico calcado na demonização, figurando a prática espírita como ação inspirada pelo diabo, o qual, desde o final do século XII, com os procedimentos judiciários instituídos pelo papa João XXII,[ 38] é o único agente capaz de tomar o controle do corpo alheio, buscando coibir um dos elementos centrais do espiritismo: a prática do mediunismo.
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Isso respingou no pentecostal
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Proliferam, assim, os chamados inquéritos ou dossiês, conjunto de matérias sequenciadas que objetivam lançar luz sobre os fenômenos instigantes do espírito investigados a partir da experiência vivenciada pelo repórter, que buscava não somente registrar os fatos observados como também os explicar à luz da moderna razão científica.
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É a partir desse cenário que, em 1924, 20 anos após o trabalho realizado por João do Rio, o então sócio e diretor do jornal A Noite, o jornalista Irineu Marinho(que venderia sua parte no ano seguinte para fundar o jornal O Globo), abriu espaço para que Leal de Souza viesse a atualizar e expandir o registro das religiões existentes não só na capital federal, mas em toda a Guanabara, buscando práticas então realizadas em Niterói(capital do Estado do Rio de Janeiro) e adjacências.
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A indicação de Souza não se deu por acaso. Tratava-se de um importante e ambicioso projeto que segue minuciosamente a prática já descrita anteriormente: exposição em primeira página, publicação posterior em livro e redação realizada por jornalista respeitado. Leal de Souza, como se sabe, era um reputado jornalista, poeta parnasiano frequentador da roda literária de Olavo Bilac e profundo conhecedor do espiritismo, o que se tratava de grande vantagem para a realização dos objetivos do inquérito denominado No mundo dos espíritos, por possibilitar ao repórter não somente o registro mediante a orientação de um amigo expert que lhe servia de guia pelos rituais, como era a praxe de seus contemporâneos, como o próprio João do Rio.
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Resumidamente, é observável que enquanto católicos buscam, a partir de posições dogmáticas, associar fundamentos e práticas espíritas à inspiração diabólica, os seguidores da doutrina de Kardec refutam tal condição a partir do pensamento lógico-científico próprio da época, buscando, a partir da razão, associar a religião ao propósito do bem, inserindo-a no arco de religiões cristãs.
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Mais do que ilação, a constatação de que Leal de Souza, após o contato com Zélio de Moraes, passa a frequentar a religião e chega a se tornar dirigente da Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição—a segunda casa fundada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 1918—, denota que em 1924 os próprios espíritas não viam na Umbanda(então denominada Espiritismo de Umbanda) prática diversa do Espiritismo. Ao que tudo indica, o cenário muda drasticamente nos anos subsequentes. No teatro de acusações, com católicos imputando a pecha de desvio moral à prática espírita, a ascensão da Umbanda no cenário carioca parece causar certo incômodo, levando os seguidores mais fundamentalistas da doutrina de Kardec, imputando à prática umbandista a condição de baixo Espiritismo, associando-a a uma forma atenuada da macumba. É nesse contexto que emerge a obra O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda, uma tentativa de Leal de Souza e do jornal Diário de Notícias de levar ao público informações sobre a religião, que, àquela altura, era praticada havia pouco mais de vinte anos.
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A cisão entre Espiritismo e Umbanda ocorre definitivamente em 1949, quando espíritas conseguem para si a prerrogativa da utilização do termo Espiritismo e realizam o chamado Pacto Áureo, subordinando as casas praticantes do Espiritismo à tutela doutrinária da Federação Espírita Brasileira. Passados 110 anos desde a primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a Umbanda segue buscando seu espaço na sociedade brasileira. Tachados de macumbeiros ou feiticeiros, estigmatizados nos espaços de convívio social, vendo seus terreiros se tornando alvo de ações de intolerância, umbandistas seguem seu caminho. Nele, as contribuições de caráter doutrinário ou histórico de Leal de Souza, presentes nos textos do inquérito O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda, se apresentam mais atuais do que nunca.
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O livro do Leal de Souza [Leonardo Cunha]

Isso viria a mudar em meados da década de 1980, quando recebi das mãos de meu pai, também um antigo membro da Piedade, um pacote de coisas ligadas à Tenda que tinham pertencido ao meu avô paterno, Aristóteles, um velho parceiro de meu bisavô e membro da Piedade desde os anos 1920. Ele próprio era uma incrível fonte de histórias daqueles primórdios da Umbanda, principalmente por ter sido cambono[ 46] de todas as entidades com as quais meu bisavô trabalhou, tendo permanecido na Tenda por quase cinquenta anos.
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Cambono! Tal como eu
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Em meio a papéis soltos e cadernos maltratados pelo tempo, havia um pequeno livro com uma sobrecapa de papel, entre o branco e o pardo, que escondia sua capa original. Ao manuseá-lo, dei-me conta de que se tratava de um exemplar—com folhas um tanto escurecidas e lombada reforçada por fitas adesivas amareladas, sem qualquer sinal de cola, mas ainda em bom estado—do livro O Espiritismo, a magia e as Sete Linhas de Umbanda, o famoso“livro do Leal de Souza”. Quase não acreditei no que tinha em mãos! Agradeci a Deus, aos orixás, aos guias, a meu avô e a meu pai por aquele incrível presente. Acabei com as traças que insistiam em destruí-lo e cuidei como o objeto precioso que era. Mesmo assim, não me contive, devorei suas páginas como quem se delicia com um intrincado romance policial—de uma só tacada! Enquanto lia, ia me lembrando das histórias ouvidas, desde a minha infância, contadas por meus avós, por meus tios, por meu pai e mesmo por meu bisavô, como a surpreendente história do homem que, descrente, ganhara uma pedrada na cabeça, descendo rio abaixo desacordado, carregado pelas águas sob o espanto dos presentes, para voltar, momentos depois, incorporado com um vigoroso guia de Ogum que o acompanharia por toda a sua vida. Era o médium que assumiria, tempos depois, a direção da Tenda Espírita de São Jorge. Além dessa, acabei encontrando muitas outras histórias incríveis e apaixonantes, as mesmas que eu me acostumara a ouvir desde minha infância.
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Na época, a Umbanda era entendida por seus praticantes como uma variação do Espiritismo, sendo também conhecida como Espiritismo de Linha. Nessa expressão, a palavra“linha”, bastante usada por Leal em seu livro, assume sua origem militar, significando algo próximo a“Espiritismo de combate”.
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Foi o jornalista que, investigando o Espiritismo, descobriu e divulgou o admirável trabalho que se realizava na Piedade, apresentando-a em sua obra anterior, o livro No mundo dos espíritos, fruto de outra investigação jornalística. Nele, Leal deu luz e publicidade ao mais fantástico dos casos envolvendo a mediunidade de meu bisavô: a história da mocinha dada como falecida e trazida de volta à vida durante seu velório, graças ao trabalho realizado na Piedade, sob o comando do Caboclo das Sete Encruzilhadas, para que ela fosse curada.
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Essa tese, infelizmente, vem sendo usada e repetida ad nauseum[ 47] por inúmeros pesquisadores da academia que insistem em buscar uma única fonte para pautar seus trabalhos, sem nunca tentar conversar com as pessoas de nossa família, mesmo diante das inúmeras incongruências que tal tese apresenta. Talvez, por preferirem acreditar em uma autora estrangeira—que, até onde eu sei, nunca passou perto da Piedade ou de meu bisavô—, talvez pela esperança de transformar em verdade aquilo que a própria história, enquanto ciência, poderia facilmente contestar. Bastava, possivelmente, que algum deles, munido de boa vontade e verdadeiro espírito científico, tivesse acesso a um único exemplar do“livro do Leal de Souza”, que, hoje, todos podem ter em mãos.
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Notas

  1. William Jackson Crawford foi professor de Engenharia Mecânica Aplicada na Queen’s University of Belfast, Irlanda. Entre os anos de 1914 e 1920, dirigiu experiências de fenômenos espíritas, tais como levitações de mesas, materializações, raps e outros. Em português, seus estudos podem ser lidos no livro Mecânica psíquica, um compilado de seus três livros: The Reality of Psychic Phenomena(1916), Experiments in Psychic Science(1919) e The Psychic Structures at the Goligher Circle(1921). [NE] [«]
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  2. O autor se refere à Revolução Constitucionalista de 1932, um movimento armado ocorrido entre os meses de julho e outubro no estado de São Paulo que buscava derrubar o governo provisório de Getúlio Vargas e convocar uma nova Assembleia Nacional Constituinte. Também conhecido como Guerra Paulista, contou com o apoio das classes médias paulistas, da oligarquia cafeeira, de membros do Exército e dos estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul, igualmente insatisfeitos com o caráter autoritário do Governo Vargas. No entanto, os dois estados logo sucumbiram às atuações de Getúlio e retiraram o apoio ao estado de São Paulo, fazendo com que o movimento chegasse ao fim após quatro meses de conflitos. Ainda que não tenha sido vencedor, o estado de São Paulo, no fim das contas, conquistou o seu objetivo: em 15 de novembro de 1933, foi instalada a Assembleia Nacional Constituinte. [Nota da Historiadora, daqui em diante NH] [«]
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  3. O Orixá Malet [ou Mallet] foi a terceira entidade a se manifestar através do médium Zélio Fernandino de Moraes. Também conhecido como“capitão de demanda”, esse espírito malaio e muçulmano, de temperamento forte e intenso poder magístico, foi trazido pelo próprio Caboclo das Sete Encruzilhadas, em 1913, a fim de atuar no combate e desmanche da magia maléfica. O Orixá Malet pertence à linha de Ogum e foi o principal responsável pela introdução de rituais profundamente complexos que até hoje são praticados na Tenda Nossa de Senhora da Piedade. [NH] [«]
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  4. O bairro de Neves pertence ao município de São Gonçalo. Contudo, por estar na fronteira entre os dois municípios, é possível que o autor tenha se confundido com as divisas geopolíticas fluminenses. A Tenda de Nossa Senhora da Piedade, a matriz, localizava-se na Rua Marechal Floriano Peixoto, em Neves, São Gonçalo. [NH] [«]
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  5. Hoje em dia, o termo“exu” é utilizado para denominar os guardiões de luz que atuam nas trevas contra o mal e os seres descritos por Leal de Souza. Atualmente, estes são chamados de eguns. [NE] [«]
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