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Texto escrito em resposta a pergunta de Nathalia Rodrigues, feita no Instagram após ler meus relatos de 115 anos de Umbanda.

Sobre a relação da minha espiritualidade com a minha mãe crente

Certa vez, meus pais estavam na praia e um irmão da igreja, tocado por Deus, anunciou minha chegada. Quando eles saíram de lá, minha mãe descobriu estar grávida.

(agora me pergunto se isso tem a ver comigo ser filho de Iemanjá?)

Essa e outras histórias me faziam acreditar que eu era especial (afinal, todo mundo quer ser especial), que Deus tinha um plano pra minha vida, e a minha mãe também acreditava nisso.

Sentimento que se tornou ódio conforme eu crescia e não sentia Deus e não falava em línguas, além de achar que ia para o inferno.


Quando rompi com a Congregação Cristã e procurei saber mais de outras religiões, minha mãe achou que era uma fase.

Ao me perceber como ateu, ela me dizia que eu poderia viver o que fosse por aí, mas que um dia Deus falaria comigo e eu retornaria ao caminho. Tomara mãe, me converto no instante em que Deus aparecer, respondia.


Na primeira vez em que “larguei tudo” pra me jogar no mundo, ninguém acreditava que fosse dar certo. Ninguém, nem minha mãe. Afinal, eu cresci tímido até para ir à padaria.

Nunca mais voltei para Botucatu que não fossem breves visitas. Provei para todos que não acreditavam e principalmente para mim mesmo que eu podia conseguir o que quisesse.

Isso foi importante para minha mãe entender que eu sempre dou um jeito. Eu me viro, mesmo sem dinheiro, não importa a situação. Posso estar em qualquer lugar do mundo, ela pode se preocupar mas sabe que vou dar conta .


Essa confiança em mim, é o que dá um pouco de segurança em minha mãe sobre onde coloco meus pés.

Como eu dizia a ela, me converteria assim que Deus aparecesse. Não foi exatamente como ela imaginava, ou de qualquer outra pessoa que dizia que um dia eu encontraria Deus.

Isso porque todas essas pessoas (inclusive eu) tem uma base cristã que não representa todas as possibilidades e variações da espiritualidade.


Talvez esse fosse o plano para mim desde o início e todos nós tenhamos um plano que podemos dizer sim ou não.

Não é fácil para minha mãe, mas eu falo pra ela orar para o Deus em que acredita e que ele irá me proteger. E se por ventura eu sair machucado no processo é porque eu precisava passar por isso e porque Ele permitiu isso.