Tambores de Angola - O livro que mudou minha vida em 2023

Meu passo apertado, furioso, tentava mascarar o quanto estava abatido. O corpo pesado, a cabeça ansiosa. Cheguei a Praia dos Anjos e caminhei em direção ao ponto de maior escuridão. Observei os barcos se movendo com a água, respirei fundo, fechei os olhos e coloquei para fora minha raiva.

QUE PORRA VOCÊS QUEREM COMIGO?

Por que, quando eu não queria, vocês apareciam, e agora que pergunto, não?!

Me senti um idiota. Envergonhado e fraco.

Queria voltar a sentir o que aconteceu no amanhecer anterior. Poder me comunicar com alguém do "lado de lá", seja lá onde fosse esse lado.

Durante o nascer do Sol do dia anterior, estava com um médium (filho de santo da umbanda) que acabara de conhecer, hóspede do hostel que faço de moradia, e mais uma amiga. Na ocasião, permiti que ele compartilhasse seus conhecimentos por todo o trajeto, os quais ouvi atentamente e com grande interesse.

Conforme o Sol subia, passei a dividir alguns pensamentos sobre minha relação com a umbanda. Por mais que a espiritualidade me direcionasse às entidades, não me sentia confortável com tantas imagens católicas nos terreiros. Menos ainda de ver a figura de Jesus (aquela ridícula e mentirosa dele loiro de cabelo comprido) com tanto destaque em alguns lugares e ainda ter que cantar louvando-o como se fosse o mesmo Deus cristão com o qual rompi muitos anos atrás.

Fiquei surpreso conforme as palavras saiam de minha boca carregadas de dor. Não sabia que ainda tinha essas dores. Dividi com aquele médium meus traumas de infância relacionados ao cristianismo, quando tudo que eu queria era ser amado por Deus. Como eu me tornei um depressivo e suicida em potencial tão cedo. Como o meu desenvolvimento foi pautado na autodestruição.

Enquanto vomitava esses sentimentos ruins, algo acima de mim pairava demonstrando poder enorme. Acho que senti a presença de Oxalá, vindo diretamente do Sol. Calei minha boca, pois senti medo e vergonha de que, se continuasse, incorporaria alguma entidade — e eu não queria que acontecesse ali, na frente dele e de minha amiga.

Passei o dia contente e alegre; as entidades me ouviram. Fazia dois meses que eu não tinha um contato espiritual. Algo estava por vir. No fim da tarde, o médium contou que sentiu energia de incorporação naquela manhã, o que me deu ainda mais segurança.

Quando ele e outros hóspedes foram embora, a merda veio à tona. Um grupo de amigos incentivou que uma das hóspedes remanescentes contasse. Na madrugada, alguém a seguiu até o banheiro e a assediou. Esse alguém era o médium.

A conversa pesou, e mais histórias surgiram. Resolvi me abrir também. Na primeira manhã dele no hostel, percebi que ele estava se masturbando no quarto coletivo, o que tentou esconder assim que me mexi. Não contei a ninguém, mas se tivesse poderia ter evitado esse assédio e outros inconvenientes.

O dia seguiu carregado de reflexão, introversão e mal-estar. Não me arrependi de não ter falado o que vi, pois, além de evitar o assédio, teria impedido o contato espiritual que tive no nascer do Sol com ele. O que me deixava puto. Por que as entidades usaram de um escroto para interagirem comigo? O que isso significava?

Minha raiva somou a outros incômodos, e assim que meu amigo gerente do hostel gritou comigo por um motivo fútil, saí de lá apressado em direção à praia. Meu passo apertado, furioso, tentava mascarar o quanto estava abatido. O corpo pesado, a cabeça ansiosa.

QUE PORRA VOCÊS QUEREM COMIGO?

Por que, quando eu não queria, vocês apareciam, e agora que pergunto, não?!

Pensei sobre os momentos espirituais que estava vivendo esse ano. Lembrei da última vez que estive em um terreiro. Saí de lá com o nome de um livro guardado na carteira. Um livro que pedi para entender e aprender mais de Umbanda.

Ah, você quer falar com a gente? Por que não começa lendo a porra do livro que pediu dois meses atrás?

“Tambores de Angola”. Foi assim que comecei a leitura, sentado em um barco de frente para a Praia dos Anjos, após tentativas inúteis para chorar e aliviar o peso que carregava.


O livro “Tambores de Angola” conta a história de Erasmino, rapaz cético da década de 80 em São Paulo. À medida que eventos perturbadores se desdobram, sua saúde mental entra em declínio, resultando em uma depressão profunda resistente as intervenções médicas e psicológicas.

Sua mãe recorre à fé para encontrar ajuda e, desta forma, acompanhamos a jornada das personagens superando os preconceitos para se aprofundarem no Espiritismo e Umbanda. Através da abordagem espiritual, compreendemos o estado de Erasmino, alvo de uma trama complexa de influências espirituais altamente tecnológica e organizada.


Fiquei um pouco chocado ao me deparar com a história de um rapaz perturbado e transtornado mentalmente. Olha o nome desse livro! “Tambores de Angola”. Pensei que se passaria na África e esperava um livro que contasse de onde veio a Umbanda, como essa religião nasceu e do que se tratava. Contudo, me deparei com a história de um cara como eu.

Fiquei ainda mais chocado conforme a história avançava e explicava o que acontecia no mundo espiritual para que Erasmino fosse depressivo. Chocante e inacreditável.

Ok, pessoal. Entendi o recado.

Passei os últimos dois meses priorizando o equilíbrio da minha vida pessoal e profissional, totalmente em vão, pois caí novamente em depressão, sem me dar conta que havia outros lugares que precisavam da minha atenção.


“Tambores de Angola” é um romance espiritual escrito por Robson Pinheiro, guiado pelo espírito Ângelo Inácio. É o primeiro volume da Coleção Segredos de Aruanda, que também conta com os títulos: Aruanda (2004), Corpo Fechado (2009), e Antes que os tambores toquem (2015).

Com mais de 200 mil cópias vendidas, o livro é reconhecido como um dos melhores exemplares que elucidam as diferenças entre Umbanda e Espiritismo.


O quarto capítulo do livro foi o mais difícil de assimilar. Devido ao nível de requinte e organização de espíritos malignos que agem como homens. Nele é introduzido um espírito diabólico, mencionado como um dos melhores magnetizadores e psicólogos da organização no plano espiritual que faz mal a Erasmino, cujo nome é Elial.

Porra! Elial é o nome do filho da puta. Apenas uma letra difere do meu nome que já é incomum.

Se você tem algum nível de ceticismo, por mais baixo que seja, assim como eu tinha — e que não perdi totalmente, pois a dúvida é importante —, provavelmente acha que: uma história sobre a organização de espíritos malignos que utilizam especialistas e tecnologias num plano extrafísico para causar mal a alguém aqui no nosso plano material é uma história absurda, além de que o nome de um dos vilões ser tão parecido com o meu é uma infeliz e bizarra coincidência. Também acho, continuo achando isso tudo um absurdo.

Sem a espiritualidade, já definia o mundo, a vida e a existência como absurdas. O meu progresso na espiritualidade parece me trazer apenas mais camadas de complexidade que tornam o absurdo ainda mais absurdo. É como se eu estivesse vivendo literalmente um episódio de Rick e Morty, só trocando termos e conceitos, mas com dinâmica e probabilidades parecidas. Principalmente os capítulos relacionados a guerra no plano espiritual - sim, acontece uma guerra no plano espiritual com exército e tudo.

Ler, assimilar e aceitar a história desse livro é uma enorme dificuldade para mim. Contudo, também é inevitável.

Seguindo os passos de Erasmino, voltei a atenção para a minha jornada espiritual. De lá para cá, muita coisa mudou e tomei um caminho sem volta.

Eu mudei. Esse livro me mudou. Não tem mais volta.

Retomei minha jornada pela Umbanda, revisitei o Kardecismo, me aprofundei na espiritualidade com indígenas Yawanawa e Lakota. Por fim, fui chamado por Exu para ser quimbandeiro. Laroye, Exu. Tomei meu caminho na encruzilhada e não tem nem como voltar atrás. Certamente, o livro “Tambores de Angola” me deu o impulso que precisava.


Desde que li “Tambores de Angola”, algumas pessoas que passaram pelo meu caminho também tiveram suas vidas alteradas por esse livro. É sempre interessante escutar como foi a leitura para elas.

Se esse foi seu caso. Me conta como esse livro chegou até você e como você se encontra após ele?


Papo com Oxalá - descartar talvez?

Acordei as 5h e fui ver o nascer do Sol. Sozinho, dessa vez. Queria sentir o mesmo que senti antes, ou qualquer outra coisa parecida que pudesse deixar fluir sem ninguém por perto para não ter vergonha.

No caminho para a praia brava, subi no mirante e enxerguei o esplendor do Sol surgindo no horizonte, atrás dos cactos típicos de Arraial do Cabo. Com dificuldades de quem não está acostumado a orar ou rezar ou falar qualquer coisa religiosa, soltei frases cortadas. Pensando no Sol como Oxalá, a mesma energia que eu pensava ter sentido antes, direcionei minhas tolas frases diretamente a ele.

Tu é o mesmo Deus cristão que eu rejeitava?

Minhas dores vieram. Comecei a choramingar.

Você é o mesmo por quem eu só desejava ser amado quando criança ?

Sentei e tentei trazer mais palavras a boca. Quis falar da inveja que eu sentia pelos que eram amados por ele na igreja. E da minha falta de apreço pela existência, do por que de eu estar aqui existindo sendo que nunca quis estar, desde que me entendo por gente.

Oxalá não respondeu. Nem nenhuma das entidades. Ninguém que pudesse dividir um pouco de entendimento. Também não senti nada próximo do que senti naquele nascer do Sol ao lado do médium assediador.



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Desde que eu li “Tambores de Angola”, algumas pessoas que passaram pelo meu caminho também tiveram suas vidas alteradas por esse livro. É sempre interessante escutar como foi a leitura para elas.

Se esse foi seu caso. Me conta como esse livro chegou até você e como você se encontra após ele?

Versão revisada no Ulysses

Meu passo apertado, furioso, tentava mascarar o quanto estava abatido. O corpo pesado, a cabeça ansiosa. Cheguei a praia dos anjos e caminhei em direção ao ponto de maior escuridão. Observei os barcos se movendo com a água, respirei fundo, fechei os olhos e coloquei para fora minha raiva.

QUE PORRA VOCÊS QUEREM COMIGO?

Por que, quando eu não queria, vocês apareciam, e agora que pergunto, não?!

Me senti um idiota. Envergonhado e fraco.

Queria voltar a sentir o que aconteceu no amanhecer anterior. Poder me comunicar com alguém do "lado de lá", seja lá onde fosse esse lado.

Durante o nascer do Sol do dia anterior, estava com um médium (filho de santo da umbanda) que acabara de conhecer, hóspede do hostel que faço de moradia, e mais uma amiga. Na ocasião, permiti que ele compartilhasse seus conhecimentos por todo o trajeto, os quais ouvi atentamente e com grande interesse.

Conforme o Sol subia, passei a dividir alguns pensamentos sobre minha relação com a umbanda. Por mais que a espiritualidade me direcionasse às entidades, não me sentia confortável com tantas imagens católicas nos terreiros. Menos ainda de ver a figura de Jesus (aquela ridícula e mentirosa dele loiro de cabelo comprido) com tanto destaque em alguns lugares e ainda ter que cantar louvando-o como se fosse o mesmo Deus cristão com o qual rompi muitos anos atrás.

Fiquei surpreso conforme as palavras saiam de minha boca carregadas de dor. Não sabia que ainda tinha essas dores. Dividi com aquele médium meus traumas de infância relacionados ao cristianismo, quando tudo que eu queria era ser amado por Deus. Como eu me tornei um depressivo e suicida em potencial tão cedo. Como o meu desenvolvimento foi pautado na autodestruição.

Enquanto vomitava esses sentimentos ruins, algo acima de mim pairava demonstrando poder enorme. Acho que senti a presença de Oxalá, vindo diretamente do Sol. Calei minha boca, pois senti medo e vergonha de que, se continuasse, incorporaria alguma entidade — e eu não queria que acontecesse ali, na frente dele e de minha amiga.

Passei o dia contente e alegre; as entidades me ouviram. Fazia dois meses que eu não tinha um contato espiritual. Algo estava por vir. No fim da tarde, o médium contou que sentiu energia de incorporação naquela manhã, o que me deu ainda mais segurança.

Quando ele e outros hóspedes foram embora, a merda veio à tona. Um grupo de amigos incentivou que uma das hóspedes remanescentes contasse. Na madrugada, alguém a seguiu até o banheiro e a assediou. Esse alguém era o médium.

A conversa pesou, e mais histórias surgiram. Resolvi me abrir também. Na primeira manhã dele no hostel, percebi que ele estava se masturbando no quarto coletivo, o que tentou esconder assim que me mexi. Não contei a ninguém, mas se tivesse poderia ter evitado esse assédio e outros inconvenientes.

O dia seguiu carregado de reflexão, introversão e mal-estar. Não me arrependi de não ter falado o que vi, pois, além de evitar o assédio, teria impedido o contato espiritual que tive no nascer do Sol com ele. O que me deixava puto. Por que as entidades usaram de um escroto para interagirem comigo? O que isso significava?

Minha raiva somou a outros incômodos, e assim que meu amigo gerente do hostel gritou comigo por um motivo fútil, saí de lá apressado em direção à praia. Meu passo apertado, furioso, tentava mascarar o quanto estava abatido. O corpo pesado, a cabeça ansiosa.

QUE PORRA VOCÊS QUEREM COMIGO?

Por que, quando eu não queria, vocês apareciam, e agora que pergunto, não?!

Pensei sobre os momentos espirituais que estava vivendo esse ano. Lembrei da última vez que estive em um terreiro. Saí de lá com o nome de um livro guardado na carteira. Um livro que pedi para entender e aprender mais de Umbanda.

Ah, você quer falar com a gente? Por que não começa lendo a porra do livro que pediu dois meses atrás?

"Tambores de Angola". Foi assim que comecei a leitura, sentado em um barco de frente para a Praia dos Anjos, após tentativas inúteis para chorar e aliviar o peso que carregava.


O livro "Tambores de Angola" conta a história de Erasmino, rapaz cético da década de 80 em São Paulo. À medida que eventos perturbadores se desdobram, sua saúde mental entra em declínio, resultando em uma depressão profunda resistente as intervenções médicas e psicológicas.

Sua mãe recorre à fé para encontrar ajuda e, desta forma, acompanhamos a jornada das personagens superando os preconceitos para se aprofundarem no Espiritismo e Umbanda. Através da abordagem espiritual, compreendemos o estado de Erasmino, alvo de uma trama complexa de influências espirituais altamente tecnológica e organizada.


Fiquei um pouco chocado ao me deparar com a história de um rapaz perturbado e transtornado mentalmente. Olha o nome desse livro! "Tambores de Angola". Pensei que se passaria na África e esperava um livro que contasse de onde veio a Umbanda, como essa religião nasceu e do que se tratava. Contudo, me deparei com a história de um cara como eu.

Fiquei ainda mais chocado conforme a história avançava e explicava o que acontecia no mundo espiritual para que Erasmino fosse depressivo. Chocante e inacreditável.

Ok, pessoal. Entendi o recado.

Passei os últimos dois meses priorizando o equilíbrio da minha vida pessoal e profissional, totalmente em vão, pois caí novamente em depressão, sem me dar conta que havia outros lugares que precisavam da minha atenção.


O quarto capítulo do livro foi o mais difícil de assimilar. Devido ao nível de requinte e organização de espíritos malignos que agem como homens. Nele é introduzido um espírito diabólico, mencionado como um dos melhores magnetizadores e psicólogos da organização no plano espiritual que faz mal a Erasmino, cujo nome é Elial.

Porra! Elial é o nome do filho da puta. Apenas uma letra difere do meu nome que já é incomum.

Se você tem algum nível de ceticismo, por mais baixo que seja, assim como eu tinha — e que não perdi totalmente, pois a dúvida é importante —, provavelmente acha que: uma história sobre a organização de espíritos malignos que utilizam especialistas e tecnologias num plano extrafísico para causar mal a alguém aqui no nosso plano material é uma história absurda, além de que o nome de um dos vilões ser tão parecido com o meu é uma infeliz e bizarra coincidência. Também acho, continuo achando isso tudo um absurdo.

Sem a espiritualidade, já definia o mundo, a vida e a existência como absurdas. O meu progresso na espiritualidade parece me trazer apenas mais camadas de complexidade que tornam o absurdo ainda mais absurdo. É como se eu estivesse vivendo literalmente um episódio de Rick e Morty, só trocando termos e conceitos, mas com dinâmica e probabilidades parecidas.

Ler, assimilar e aceitar a história desse livro é uma enorme dificuldade para mim. Contudo, também é inevitável.

Seguindo os passos de Erasmino, voltei a atenção para a minha jornada espiritual. De lá para cá, muita coisa mudou e tomei um caminho sem volta.

Eu mudei. Esse livro me mudou. Não tem mais volta.


Desde que li "Tambores de Angola", algumas pessoas que passaram pelo meu caminho também tiveram suas vidas alteradas por esse livro. É sempre interessante escutar como foi a leitura para elas.

Se esse foi seu caso. Me conta como esse livro chegou até você e como você se encontra após ele?